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Internacionalizar a Expo Favela é trazer um outro olhar para esses territórios, diz Preto Zezé

Durante vários dias, uma delegação da Central Única das Favelas (CUFA) percorreu diversas cidades da Europa para divulgar o trabalho da ONG e lançar o evento Expo Favela Innovation. A iniciativa vai promover um diálogo e conexão com investidores estrangeiros e promover uma troca de experiências com ações sociais realizadas no Brasil, que podem inspirar associações e líderes de cidades europeias confrontados com desafios para populações desfavorecidas.


Celso Athayde, (presidente da CUFA à esq), Paula Alves de Souza (embaixadora do Brasil na Unesco), Preto Zezé (Conselheiro da CUFA) e Karina Tavares (diretora da CUFA – França).
© Divulgação

Encontro de empreendedores e investidores, a Expo Favela já foi realizada em São Paulo, onde reuniu mais de 40 mil pessoas em um final de semana, e agora se estende para 21 estados do Brasil. O evento criado pela Central Única das Favelas (CUFA) está em uma nova fase de expansão de suas fronteiras e encontrou na França um potencial para ampliar essa internacionalização.

Com a presença do presidente da entidade, Celso Athayde, e do conselheiro Preto Zezé, a delegação passou por Cannes, no sul da França, onde fez a promoção e o lançamento da Expo Favela Innovation Paris 2024, com o apoio da Meta, empresa que reúne Facebook, Instagram e WhatsApp. Na sequência, os representantes da CUFA estiveram reunidos com o prefeito de Saint-Ouen, na periferia norte da capital francesa, com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e com a representação do Brasil na sede da Unesco.

“Estou muito otimista. Notei um interesse muito grande da França no Brasil. Temos a chance de trazer um entendimento e uma tecnologia social brasileira para dialogar, não para dar aula, para ensinar, como é que faz, como receita de bolo, mas para ver como é que a gente dialoga soluções. Apesar de sotaques e lugares diferentes, as soluções são comuns e globais”, afirma Preto Zezé.

Um dos trabalhos mais relevantes da CUFA tem sido o de transformar a visão da sociedade sobre esses territórios que o IBGE define, lembra Preto Zezé, como “aglomerados anormais”. Esses espaços urbanos podem ter nomes diferentes em vários países, mas têm em comum uma mesma realidade: seus moradores vivem uma situação de desvantagem social.

“A gente entende favela como um ambiente, um território que está em desvantagem social. Então, isso existe no mundo inteiro, talvez tenha um nome, uma denominação diferente, mas quando você olha, são lugares em desvantagem social, são lugares onde há ausência de políticas públicas que possibilitem melhoria da qualidade de vida, um lugar muitas vezes em que a infraestrutura é precária, mas são lugares ao mesmo tempo, em que as pessoas estão produzindo, você vê a produção cultural, produção de tecnologia”, afirma.

Preto Zezé, Conselheiro da CUFA, Central Unica das favelas
Preto Zezé, Conselheiro da CUFA, Central Unica das favelas © RFI

Quebra de esteriótipos

As ações e as iniciativas da CUFA também contribuem para uma mudança da imagem desses territórios e a quebra de muitos estereótipos também fora do Brasil.

“Quando a gente colocou o nome favela, há 26 anos, era difícil até para as próprias organizações de favelas assumirem esse nome. O setor privado tende a olhar com um olhar de caridade. O setor público olha como gasto e poucas pessoas olham como possibilidade de soluções e investimentos. A gente quer trazer esse olhar, essa leitura, sem negar que existem problemas, sem negar que existem coisas a serem feitas, sem negar a necessidade de as pessoas protestarem para que aquilo melhore, mas também trazendo outro olhar que é, o que se está fazendo na ausência desse Estado?”, diz.

Nessa perspectiva, de acordo com Preto Zezé, o objetivo da Expo Favela é discutir soluções conjuntas e construir ações para uma visibilidade positiva, como a formação de lideranças e promoção de atividades sociais e econômicas para atrair parceiros que façam dos moradores protagonistas das mudanças nos seus próprios territórios.

“Nós estivemos no maior festival de criatividade e inovação que é o Cannes Lions. É a favela se reunindo com estruturas de poder, estruturas de decisão, organismos internacionais, organismos que vão fazer advocacy, diálogos bilaterais, estruturas públicas de decisão institucional. Então, as pessoas vão olhar e pensar, ‘mas espera aí, a ideia que eu tinha de favela era uma ideia estereotipada’. Muitas vezes, os países de fora veem o Carnaval, futebol, mas não veem a política, a tecnologia, as soluções, a inovação. E é esse olhar que a gente quer trazer nessa construção que nós estamos fazendo, internacionalizando a Expo Favela”, resume.

Para ver a entrevista na íntegra, clique no link acima 

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