Mundo

Prigojin fala pela primeira vez após rebelião da milícia Wagner: “objetivo não era derrubar poder russo”

Ainda de um paradeiro desconhecido, o chefe da milícia Wagner disse, nesta segunda-feira (26), que o seu objetivo ao enviar tropas para Moscou não era derrubar o poder russo, mas salvar o seu grupo paramilitar, ameaçado de ser absorvido pelo Exército. A declaração foi feita através de uma mensagem de áudio, a primeira enviada por ele desde o fim da rebelião, ocorrida no fim de semana.


O líder do grupo paramilitar Wagner, Iêvgueny Prigojin, ao deixar o quartel-general em Rostov, em 24 de junho de 2023.
REUTERS – ALEXANDER ERMOCHENKO

O objetivo da marcha era “não permitir a destruição do grupo Wagner” e “protestar contra a ineficiência do comando militar russo na Ucrânia”, afirmou Iêvgueny Prigojin em uma mensagem de 11 minutos no Telegram.  O líder do grupo paramilitar Wagner garantiu que o motim organizado por ele e seguido por seus homens, e depois finalmente abortado, não teve como objetivo derrubar a presidência de Vladimir Putin. 

“O objetivo da marcha era responsabilizar aqueles que, por meio de suas ações não profissionais, cometeram um número considerável de erros durante a operação militar especial” na Ucrânia, disse. Ele acrescentou que a milícia não foi adiante para não “derramar sangue russo” e “não derrubar o poder do país”.

Apoio da população

Prigojin também garantiu que teve o apoio dos civis durante a revolta de 24 horas que, segundo ele, expôs as fraquezas do poder russo.

De acordo com o relato do líder do grupo Wagner, os soldados da milícia receberam o apoio dos habitantes das localidades pelas quais passaram. “Os civis vieram ao nosso encontro com bandeiras russas e emblemas de Wagner, ficaram felizes quando chegamos e passamos por eles”, disse, em sua única alocução desde o fim da revolta armada.

O avanço da milícia Wagner em direção a Moscou, no sábado, revelou “sérios problemas de segurança” na Rússia, disse Iêvgueny Prigojin, revelando que seus homens avançaram 780 quilômetros enfrentando pouca resistência. “A marcha trouxe à tona sérias preocupações de segurança no país”, disse o líder do grupo Wagner.

Ele observa que seus homens avançaram em direção à capital russa, tendo parado “a pouco mais de 200 quilômetros de Moscou”.

“Demonstramos um alto nível de organização que deveria ser o do Exército russo”, analisou o chefe do Wagner, acrescentando que o grupo abateu aeronaves da Força Aérea Russa, o que Moscou não confirmou. “Lamentamos ter disparado contra a Força Aérea, mas eles estavam jogando bombas e foguetes contra nós”, disse.

Há meses, Prigojin vem acusando o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe de gabinete, Valeri Gerasimov, de incompetência e de terem enviado dezenas de milhares de soldados para o sacrifício. Segundo ele, o ministério tentou desmantelar o grupo Wagner, primeiro absorvendo-o e depois atacando um de seus acampamentos, matando trinta homens.

A sua revolta, que Progojin descreve como uma “marcha por justiça”, foi, portanto, uma “demonstração” de como a ofensiva na Ucrânia deveria, segundo ele, ter sido conduzida.

Lukashenko “estende a mão”

Iêvgueni Prigojin não revelou o seu paradeiro, mas o Kremlin garantiu que ele partiria para Belarus, onde o presidente Alexander Lukashenko, que negociou o fim do motim com o acordo de Vladimir Putin, agora propõe soluções para permitir a sobrevivência do grupo Wagner. “Lukashenko estendeu a mão e se ofereceu para encontrar soluções para a continuação do trabalho do grupo Wagner de forma legal”, afirmou Prigojin.

A informação divulgada inicialmente pelo Kremlin era que, com o acordo, Prigojin havia obtido garantias de imunidade para ele e seus combatentes em troca do fim da rebelião.

Entretanto, agências de notícias russas informaram nesta segunda-feira que a investigação contra Prigojin continua aberta. “O caso não foi encerrado, a investigação continua”, declarou uma fonte da Procuradoria-Geral russa, citada pelas três principais agências de notícias do país.

Zelensky vai a Donestsk

Em meio ao clima de incerteza na Rússia por causa da revolta do grupo Wagner, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, aproveitou para visitar a região de Donetsk, perto do front oriental na Ucrânia, nesta segunda-feira. O deslocamento foi confirmado pela presidência ucraniana em um comunicado e acontece no momento em que o Exército realiza uma contraofensiva nesta área e no sul do país, na tentativa de retomar posições dos russos.

Zelensky “visitou unidades das Forças Armadas do grupo operacional e estratégico de Khortytsia”, ao lado do comandante das forças terrestres ucranianas, Oleksandre Syrsky. “Quero agradecer, recompensar a todos e apertar as mãos com muita gratidão, a vocês e suas famílias”, disse o presidente ucraniano, dirigindo-se aos militares. “A Ucrânia está orgulhosa de cada um de vocês”, concluiu.

Durante a viagem, Volodymyr Zelensky parou em um posto de gasolina e tirou várias selfies com os soldados presentes no local, segundo imagens compartilhadas em seu canal no Telegram. O presidente ucraniano entra regularmente em contato com seu Exército, próximo ou no front, ao contrário de seu homólogo russo, Vladimir Putin, que faz raras aparições públicas.

A Ucrânia lidera desde o início de junho uma contraofensiva com o objetivo de reconquistar os territórios ocupados por Moscou, tendo reivindicado até agora a retoma de cerca de dez localidades.

(Com informações da AFP)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo