Sucessor de Bolsonaro depende mais de Lula do que da direita, avalia cientista político
Analistas ouvidos pela RFI afirmam que é cedo apontar quem irá herdar o espólio eleitoral de Jair Bolsonaro. Desempenho da gestão petista é peça-chave nessa corrida da direita, que pode se fragmentar após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A decisão do TSE que tornou o ex-presidente inelegível pelas próximas três eleições atiçou o cenário de apostas e conjecturas acerca das forças políticas que estarão vivas em 2026. O ex-presidente poderá votar, já que não teve os direitos políticos cassados, mas está impedido de ter seu nome inscrito como candidato antes de 2030.
Nos corredores de Brasília já era aguardado que ele seria punido pelo repertório golpista que permeou seu mandato. De certa forma era esperado também certo vácuo na direita e extrema direita após o TSE bater o martelo da inelegibilidade de seu principal expoente hoje no país. A dúvida é se esse segmento terá tempo e convergência para forjar seu novo protagonista.
“Eu não acredito que exista um nome de grande peso para ser um substituto do personagem político Bolsonaro daqui a quatro anos, por um motivo muito simples: Bolsonaro não deixou um legado no âmbito da direita para conseguir levar a sua narrativa adiante. Teve um contexto de pandemia, um contexto político e social, e uma série de erros que o levaram a se perder politicamente e se tornar inelegível”, afirmou à RFI o cientista político e professor do UDF (Centro Universitário do Distrito Federal) André Rosa.
O analista acredita que as possibilidades de a direita chegar a um nome competitivo depende mais do desempenho da gestão Lula do que de nomes já citados no páreo. “Vejo hoje que, a depender do cenário econômico em 2025, 2026, o PT tem uma grande chance de continuar no poder. Na área internacional, por exemplo, Lula tem cumprido uma agenda interessante, num contraponto ao que foi a diplomacia do governo Bolsonaro”, avaliou Rosa.
Direita Fragmentada
Figuram na lista de aspirantes à liderança da direita nomes como os dos governadores dos dois estados mais populosos do país, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais, além de integrantes do clã do próprio Bolsonaro, como seus filhos e sua mulher, Michelle.
“Acho cedo citar algum nome, dizer se algum desses terá ao fim cacife para assumir o legado eleitoral de Bolsonaro. Acredito que haverá uma fragmentação na direita, uma disputa para ver quem conseguirá ocupar esse espaço deixado pela inelegibilidade do ex-presidente”, destacou o cientista político Leonardo Queiroz Leite, doutor em Administração Pública e Governo pela FGV/SP.
Apesar de estar fora do jogo principal, Leite afirma que Bolsonaro manterá a influência sobre uma parcela dos eleitores. “Esse campo da direita tinha um líder claro, que era o Jair Bolsonaro. Ele está fora da disputa eleitoral, mas não da disputa política”, analisa. “Embora ele não possa ser candidato oficialmente, ele vai ser, como ele mesmo disse, um cabo eleitoral de luxo. Ainda vai ter uma força de puxar votos, de influenciar, de trazer o discurso, de mobilizar esse pessoal, seja a direita mais radical ou a direita não tão radical assim.”
Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília