Sobreviventes relembram o 80º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz

O ex-prisioneiro de Auschwitz, Leon Weintraub, acende uma vela no antigo campo de concentração e extermínio nazista de Auschwitz, durante uma cerimônia em memória do 80º aniversário da libertação, em Oswiecim, na Polônia, 27 de janeiro de 2025. © Czarek Sokolowski / AР
As homenagens começaram pela manhã, com um ato memorial do qual participaram alguns sobreviventes, acompanhados pelo presidente polonês, Andrzej Duda. Eles levaram flores ao Muro da Morte, local onde os prisioneiros eram fuzilados.
Auschwitz foi o maior dos campos de extermínio construídos pela Alemanha nazista durante da Segunda Guerra Mundial. Um milhão de judeus e mais de 100.000 não judeus morreram em suas dependências entre 1940 e 1945.
À tarde, cerca de 50 sobreviventes participaram de uma cerimônia do lado de fora dos portões de Auschwitz-Birkenau. Eles estavam acompanhados por dezenas de líderes mundiais, como os monarcas da Espanha, Bélgica, Dinamarca e Holanda, entre outros.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, também estiveram presentes.
A palavra foi reservada aos sobreviventes
A data serve como um alerta sobre o aumento do ódio e do antissemitismo ao redor do mundo e o medo de que a história possa se repetir.
“Testemunhamos hoje uma enorme onda de antissemitismo e foi precisamente o antissemitismo que levou ao Holocausto”, alertou Marian Turski, de 98 anos, em frente a um dos vagões do trem de gado usado para transportar prisioneiros para Auschwitz.
Leon Weintraub, um médico sueco de 99 anos, nascido na Polônia, condenou a proliferação de movimentos de inspiração nazista na Europa. Alguns sobreviventes usavam bonés e cachecóis listrados de azul e branco, simbolizando seus antigos uniformes de prisão.
“Em 27 de janeiro de 1945, quando o Exército Vermelho abriu os portões, o mundo finalmente viu a progressão gradual do antissemitismo presente ali”, declarou Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial. “Hoje, todos nós devemos nos comprometer a nunca renunciar ao antissemitismo”, acrescentou.
O evento destaca a necessidade de preservar a memória para quando não houver mais testemunhas vivas. Os organizadores disseram que este será o último evento em uma década com um grande grupo de sobreviventes.
“Com a diminuição do número de sobreviventes do Holocausto, a responsabilidade pela lembrança recai mais sobre nossos ombros e sobre as gerações futuras”, disse o rei Charles III, durante uma visita ao Centro de Justiça Comunitária de Cracóvia, nesta segunda-feira.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que é de origem judaica e estava entre os líderes presentes na cerimônia, disse que o mundo deve se unir “para deter o mal”, uma declaração amplamente interpretada como uma alusão à Rússia.
Em uma mensagem divulgada pelo Kremlin nesta segunda-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, prestou homenagem aos soldados soviéticos que “venceram o mal total” ao libertar o campo de Auschwitz. Desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, a Rússia foi banida das homenagens.
Números do genocídio
Auschwitz foi o campo de extermínio mais conhecido da Segunda Guerra Mundial. Verdadeira fábrica de mortes em série, o local simboliza o assassinato de seis milhões de judeus europeus e de milhares de membros de outras minorias pelas mãos dos nazistas.
As instalações foram construídas em 1940 na localidade de Oswiecim, no sul da Polônia. Os nazistas mudaram o nome para Auschwitz. Os primeiros 728 prisioneiros, políticos poloneses, chegaram em 14 de junho daquele ano.
De 21 a 26 de janeiro de 1945, os alemães destruíram as câmaras de gás e os crematórios e se retiraram antes da chegada dos soviéticos. Em 27 de janeiro, o Exército Vermelho encontrou no local 7.000 sobreviventes. Essa data foi designada pela ONU como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Atualmente, Auschwitz é um museu e memorial administrado pelo Estado polonês, sendo um dos pontos mais visitados da Polônia. A instituição tem como missão preservar os objetos e a memória do que aconteceu, promovendo também pesquisa histórica. Em 2024, mais de 1,8 milhão de pessoas visitaram o local.
(Com AFP)