Economia

Sobrecarregadas, 30% das mulheres estão insatisfeitas na profissão

Entre as principais reclamações estão salários baixos e sobrecarga com trabalho doméstico


FreePik –
Estabilidade emocional é dificuldade para mulheres no ambiente profissional

Seis em cada dez mulheres almejam mudança na situação financeira, enquanto três em cada dez querem, efetivamente, mudar de emprego. Os pontos que mais afligem a saúde emocional das trabalhadoras brasileiras são falta de dinheiro e sobrecarga com trabalho doméstico, segundo levantamento da ONG Think Olga, que busca promover igualdade de gênero no mercado de trabalho, que ouviu 1078 brasileiras com mais de 18 anos.

Ao todo, 32% delas se queixam de remuneração baixa. Em segundo lugar, aparece a sobrecarga com trabalho doméstico (22%) e, em terceiro, invisibilidade/falta de reconhecimento (21%). Veja o ranking:

No último domingo, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, que suscita o debate e corrobora com a pesquisa da ONG.

O trabalho de cuidado envolve muitas horas dedicadas ao cuidado com a casa e com as pessoas: dar banho e fazer comida, fazer faxina, comprar os alimentos que serão consumidos, cuidar das roupas (lavar, estender e guardar), prevenir doenças com boa alimentação e higiene em casa, cuidar de quem está doente, fazer café da manhã, almoço, lanches e jantar para os filhos, educar, e isso todos os dias, por horas a fio.

As mulheres dedicam o dobro de tempo dos homens nas tarefas de cuidado, segundo dados do IBGE. Em um ano as mulheres gastam 1.118 horas (47 dias) nessas tarefas, enquanto os homens dedicam apenas 572 horas (23 dias).

  •  57% das mulheres de 36 a 55 anos cuidam de alguém
  • 50% das mulheres pretas e pardas cuidam de alguém

Para a psicóloga e psicanalista Juliana Camargo, o trabalho do cuidado, somado às atribuições profissionais, podem gerar desgaste emocional e até Síndrome de Burnout, que é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico.

“Uma carga de trabalho potencializa a outra. O trabalho formal, remunerado, já traz consigo suas questões de diferenças salariais, e a divisão do trabalho doméstico também é desigual pra as mulheres. Ainda que nos últimos anos tenha crescido a preocupação com essa sobrecarga, ainda recai majoritariamente sobre elas”, afirma.

A insatisfação com a vida financeira não escapa das marcantes desigualdades sociais do Brasil. Como sempre, mulheres negras e pobres são as mais afetadas. Enquanto 61% das mulheres brancas se consideram satisfeitas, 46% das mulheres pretas e pardas se dizem satisfeitas profissionalmente.

No emprego, a principal reclamação deve-se às relações. Quase metade (49%) das mulheres dizem ter poucas amizades ou pouca interação social. Além disso, 26% reclamam de pressão estética e 21% dizem ser alvo de atitudes machistas.

Não por acaso, a baixa autoestima e a insatisfação com o corpo também são mencionados pelas entrevistadas como fatores que causam impacto negativo em sua saúde emocional. Também por isso, as mulheres representam 68% dos diagnósticos de pessoas com transtornos alimentares no Brasil.

As entrevistadas apontaram ainda quais são suas estratégias de cuidado. Quatro em cada dez disseram se refugiar nos exercícios físicos. Outras 37%, na espiritualidade e 35% delas disseram passar tempo com família e amigos. Só 15% das mulheres entrevistadas disseram fazer terapia ou análise.

Segundo a psicóloga Juliana Camargo, ainda há certo preconceito com a psicanálise. “O cuidado com a saúde mental ainda é atrelado à fraqueza, à vulnerabilidade”, opina.

Também aparecem na lista: Cuidado com aparência (31%); Foco em estudar, ler ou trabalhar (27%); Cuido da alimentação (26%) ; Procuro ficar perto da natureza (24%) ; Hobbies (16%); Pesquiso e me informo sobre saúde mental por conta própria (16%).

“Essas atividade são ótimas para despressurizar o estresse, porém, é preciso sempre atenção para se pensar se essas atividades estão cumprindo esse papel, ou se são uma espécie de anestesia para quem não compreende as causas do que de fato está afligindo”, diz Camargo.

IG

 

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