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Policiamento inédito tenta conter violência de 1.000 radicais em protesto contra reforma na França


Um esquema de segurança “inédito”, segundo o Ministério do Interior, marca o décimo dia de mobilização contra a reforma da Previdência na França.
AFP – ALAIN JOCARD

A queda de braço entre os sindicatos de trabalhadores e o presidente Emmanuel Macron continua nesta terça-feira (28), décimo dia de mobilização nacional contra a reforma da Previdência. O jornal Le Parisien informa em primeira página que 13.000 policiais estão nas ruas em todo o país, 5.500 apenas na capital francesa, um esquema de segurança inédito. O Ministério do Interior prevê a presença de mais de 1.000 radicais na passeata em Paris, que vai da praça da República à da Nação.

Os distúrbios registrados nos protestos de quinta-feira passada, somados às cenas de guerra entre militantes ecologistas e policiais na manifestação de sábado numa zona rural do centro-oeste da França, alimentam o temor de uma perda de controle da segurança pública.

Em entrevista ao Le Parisien, o professor e especialista em criminologia Alain Bauer afirma que os métodos de ação da polícia francesa continuam os mesmos, apesar das críticas que policiais têm sofrido por abusos na repressão aos manifestantes. De acordo com o especialista, a polícia francesa lida hoje com três tipos de manifestantes. Um deles é profissional, estruturado e organizado; um segundo tipo é bem mais jovem, resistente à organização; e uma terceira categoria, que surgiu há cerca de 20 anos, é composta pelos black blocs, ou mais recentemente, os “blocos brancos” ou “blocos azuis”, que combatem a autoridade do Estado. Esses manifestantes participam de treinamento em técnicas de guerrilha, diz o professor, e circulam pelo país durante as manifestações.

Com uma imagem de capa que mostra o presidente Emmanuel Macron diminuído e isolado, o Libération questiona qual seria a porta de saída para a crise social. Os sindicatos mantêm a pressão contra o governo, que multiplica as reuniões com os presidentes da Assembleia, do Senado e líderes partidários da base aliada para encontrar uma solução à crise que ele mesmo criou, escreve o Libération, ao aprovar a reforma sem votação dos deputados, graças a um dispositivo constitucional.

O recurso abusivo ao artigo 49.3 da Constituição, usado 11 vezes pelo governo em menos de um ano do segundo mandato de Macron, tornou-se uma ameaça à democracia, na avaliação dos manifestantes.

Turistas cancelam reservas

O diário Les Echos busca dar uma tonalidade positiva à economia francesa em sua manchete. Apesar da inflação, o déficit público francês atingiu 4,7% do PIB em 2022, de acordo com dados publicados nesta terça-feira pelo Insee (Instituto Nacional de Estudos e Estatísticas). A dívida pública fechou o ano em € 2,95 trilhões, montante equivalente a 111,6% do PIB. Os dados são melhores do que o esperado, graças a um aumento da arrecadação fiscal.

Entretanto, o setor do turismo começa a sentir as consequências da crise social prolongada, acrescenta Les Echos. Segundo a Aliança do Comércio de Paris, as vendas na capital caíram 20% em relação ao mesmo período no ano passado. Diante do lixo acumulado nas ruas durante as três semanas de paralisação dos lixeiros, e a violência nos protestos, os hotéis notam uma queda das reservas de 14% a 28% nos dias de greve.

RFI

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