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Lula defende inclusão do Irã no Brics e diz que cúpula foi ‘civilizatória’ ao fortalecer Sul Global

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou nesta quinta-feira (24) a decisão do Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de convidar mais seis países-membros, entre eles o Irã, alvo de sanções ocidentais. Lula explicou que a escolha dos novos integrantes atende à importância geopolítica dos países no cenário global.

Em entrevista coletiva, Lula comemora avanço do Brics e que países emergentes deverão “ser tratados com igualdade de condições” pelos ricos. © Lucia Müzell/ RFI

Nesta manhã, o Brics anunciou o convite para Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Argentina, além do Irã, ingressarem no bloco das potências emergentes, formalizado há 15 anos.

“É uma das reuniões mais importantes que eu já participei, seja nos dois mandatos anteriores, seja nesse mandato. Quando a gente vê um filho nascer, a gente acompanha o crescimento dele e acompanha o tamanho que ele fica em relação aos demais”, disse Lula ao iniciar uma coletiva de imprensa nesta noite.

“Nós éramos chamados de terceiro mundo. Depois, de países em vias de desenvolvimento. E agora, nós somos o Sul Global. Veja que pomposo”, comemorou, visivelmente satisfeito.

O Brics+, como começa a ser apelidado, é apontado como um grupo antagônico ao G7, formado pelos países ricos. Lula avalia que o G7 teve a sua importância no passado, mas agora as nações desenvolvidas também “terão de conversar” com o Brics “com a garantia de ser tratado com igualdade de condições, e não a prepotência de um senhor de escravos”.

O presidente brasileiro sugeriu, inclusive, a realização de futuros encontros entre ambos os blocos para discussão de temas como comércio, ciência, tecnologia e democracia.

“Quando nós criamos o Brics, muita gente achava que era uma piada, muita gente não levava a sério, porque as pessoas tinham visto tantos outros grupos serem criados. (…) Para quem está nisso desde 2009, é um avanço extraordinário”, disse.

“É uma reunião civilizatória. Os países pobres também podem falar, também têm direito, também tem desejo, e o que nós queremos é poder expressar aquilo que a gente e deseja”, sintetizou Lula.

Irã é extremamente importante

Ao ser questionado sobre a escolha do Irã, o mandatário negou que a decisão tenha sido tomada por bases ideológicas. Lula salientou que a relevância geopolítica dos países selecionados não pode mais ser negada. Durante as negociações para o acordo, a China pressionou para a inclusão de Teerã na lista, conforme fontes da diplomacia brasileira.

“O Irã é extremamente importante. Eu fico muito feliz quando vejo que o Irã está conversando com o mundo árabe, se colocando de acordo com a Arábia Saudita. Isso é uma mudança de comportamento”, sublinhou.

“[Rússia, China e Irã] são três países que não podem estar fora de qualquer grupamento político que se queira fazer. Essa gente tem que estar participando e outros países irão participar, porque tem muitos países pedindo”, mencionou o chefe de Estado.

Milei e o ‘grupo de comunistas’

O presidente do Brasil também frisou que os convites foram a Estados, não governantes. Ao abordar a Argentina, avaliou que caberá ao futuro presidente do país decidir se vai querer ou não aceitar a proposta de entrar no Brics. O candidato da extrema-direita nas eleições presidenciais argentinas, Javier Milei, já advertiu que pretende rejeitar a inclusão no Brics, julgado por ele como um grupo de “comunistas”.

“Não importa quem ganhe as eleições. O Brasil, enquanto Estado, vai negociar com o Estado argentino, independentemente de quem seja o presidente”, afirmou. “Talvez o presidente não queira negociar com o Brasil, e é um direito dele”, abarcou

Lula seguiu esta noite para a capital da Angola, Luanda, segunda etapa do giro do presidente brasileiro pela África. A viagem se encerra no domingo (27), em São Tomé e Príncipe, para a 14ª Conferência de Chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Joanesburgo

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