Política

Argentinos voltam às urnas hoje para uma das eleições mais acirradas da história

Nas últimas 12 pesquisas, a diferença entre o candidato da extrema-direita Javier Milei e o peronista Sergio Massa não passou de seis pontos percentuais

Sergio Massa ou Javier Milei será o novo presidente da Argentina; vencedor assume o cargo no dia 10 dezembro — Foto: UAN MABROMATA E TOMAS CUESTA / AFP

Os argentinos voltam às urnas neste domingo (19) para o segundo turno das eleições presidenciais. E a disputa está bem acirrada. Nas últimas 12 pesquisas de intenções de voto, a diferença entre o candidato da extrema-direita Javier Milei e o peronista Sergio Massa não passou de seis pontos percentuais, mas Milei esteve na frente em quase todas.

De acordo com a última pesquisa AtlasIntel, divulgada na sexta-feira (10), Milei lidera a corrida eleitoral com 52,1% das intenções de voto contra 47,9% de Massa.

Na única projeção do segundo turno em que Massa apareceu em primeiro lugar, numa pesquisa do Celag (Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica), o candidato peronista teve 46,7% das intenções de voto, ante 45,3% de Milei.

Sergio Massa (União pela Pátria) é o atual superministro da Economia do governo do presidente Alberto Fernández e da vice-presidente Cristina Kirchner. Já Javier Milei (A Liberdade Avança) é um candidato de extrema direita que ataca a política tradicional e promete até acabar com o banco central argentino, caso seja eleito. O mais votado tomará posse no dia 10 de dezembro.

Principais propostas dos candidatos

As principais propostas dos dois candidatos estão atreladas a dois temas: economia e segurança.

“Do ponto de vista de segurança, o Massa é o candidato que fala de prevenção, em reforma da Justiça para poder acelerar mais a questão dos julgamentos e processos, em instalação de câmeras, enfim, o objetivo dele é prevenir a violência. E do ponto de vista do Milei, não há aparentemente um grande pacote de segurança, ele efetivamente critica a delinquência da classe política e fala que vai fazer uma grande reforma”, explica Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em relação à economia, os desafios são ainda maiores. Apesar de ser de um partido mais de esquerda e ligado ao kirchnerismo, Massa fala em reduzir impostos, proposta normalmente defendida pela direita.

“O Massa tem focado mais na ideia de tentar reorganizar a economia argentina com isenção de impostos para alguns grupos, especialmente para quem tem acima de um certo patamar de imposto de renda, o que é uma enorme renúncia fiscal, ainda mais no contexto em que a Argentina está com dificuldade de ajustar suas contas. Ele fala também em baixar impostos para importações e exportações, numa tentativa de reinserir a Argentina no mercado internacional e conseguir atrair mais dólares com exportações, que é uma necessidade muito grande do país para poder honrar seus compromissos internacionais”, esclarece.

E Javier Milei aposta em propostas mais complexas para a economia argentina. Ele propõe, por exemplo, a dolarização completa do país e o fim do Banco Central, exatamente num momento em que a Argentina tem dificuldade na entrada de dólares.

“É uma proposta bastante ousada. Na cabeça dele, não há necessidade de emitir moeda se dolarizar a economia e o país não precisaria mais do Banco Central, ainda que a Argentina necessitaria de algum tipo de instância para organizar a economia em vários aspectos, como a questão da taxa de juros, a definição de regras para bancos, entre outras coisas. Então ele vai tentar, de certa maneira, liberalizar a economia, inclusive tentando desregulamentar uma série de setores como o financeiro e o bancário. Então a gente pode esperar que se o Milei for eleito, ele vai adotar uma agenda ultraliberal no sentido econômico”, avalia Leonardo Paz.

Milei também defende o rompimento com o Mercosul. Nos últimos meses, disse também que não queria relações comerciais com o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No dia 8 deste mês, Milei chamou Lula de “comunista” e “corrupto” e disse que não se reuniria com o brasileiro, caso fosse eleito.

No entanto, na última quinta-feira (16), Guillermo Francos, maior articulador da campanha de Milei, afirmou que uma eventual vitória do candidato da direita não afetará a relação com o Brasil. Segundo ele, a ligação dos países está “acima de posições pessoais”.

Nesta semana, Lula demonstrou apoio a Sergio Massa, mas evitando citar o nome do argentino. No programa semanal Conversa com o Presidente, Lula falou sobre a eleição no país vizinho.

“Eu não posso falar de eleição na Argentina, porque é direito soberano do povo da Argentina. Mas queria pedir que vocês lembrem que o Brasil precisa da Argentina e que a Argentina precisa do Brasil, dos empregos que o Brasil gera na Argentina e dos empregos que a Argentina gera no Brasil, do fluxo comercial entre os dois países e do quanto nós podemos crescer juntos”, disse.

Clima esquenta no último debate

No último domingo (12), Javier Milei e Sergio Massa se enfrentaram em um debate transmitido pela rede de TV estatal. E a economia foi o assunto mais explorado pelos dois candidatos.

Massa questionou as propostas de Milei e perguntou se ele realmente iria dolarizar a economia e fechar o banco central argentino caso fosse eleito, pedindo que respondesse “sim” ou “não”. Após se negar a responder como Massa queria, Milei confirmou que irá cumprir suas promessas e culpou o banco central, dizendo que ele é o culpado pela inflação no país.

Por outro lado, Milei questionou Massa sobre os níveis de inflação de 300%, pobreza de 40% e miséria de 10% na Argentina. Massa respondeu dizendo que em países que adotaram a dolarização, “como o Zimbabue ou a Micronésia, ela falhou”.

Crise econômica na Argentina

A economia argentina enfrenta várias crises desde 2001, quando o governo entrou em recessão, com alto índice de desemprego, e decidiu restringir os saques nos bancos, em meio a uma forte onda de protestos.

Desde então, a Argentina tenta se reerguer, mas sempre encontra muitos obstáculos, como a desvalorização do peso, a moeda oficial do país, causada pela escassez de dólares; uma das maiores taxas de inflação do planeta; e os fortes reflexos da pandemia de Covid-19.

“O que está em jogo é uma tentativa de recuperação dessa Argentina, que está numa situação de crise quase constante desde 2001. Até tem um momento em que a economia consegue performar um pouco melhor, em meados dos anos 2000, no governo de Néstor Kirchner (presidente entre 2003 a 2007), durante o superciclo das commodities, quando o país conseguiu ter uns poucos anos de superávit em quase 20 anos de déficit. Então é uma situação muito dramática, em que a economia da Argentina vem se deteriorando há muito tempo”, argumenta o especialista da FGV.

Depois de Néstor Kirchner, quem assumiu a presidência da Argentina foi a esposa dele, Cristina Kirchner, que ficou no poder de 2007 a 2015. Mauricio Macri foi o presidente entre 2016 e 2019.

O Tempo 

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