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Entenda a crise no Senegal, após presidente Macky Sall adiar eleições

O presidente do Senegal, Macky Sall, anunciou no sábado (3) o adiamento das eleições presidenciais, que estavam marcadas para 25 de fevereiro. A decisão inédita causou indignação no país, um dos mais estáveis da África ocidental, e preocupação no exterior. A França e a União Europeia fizeram um apelo para a realização de eleições “o mais rapidamente possível”. Nesta segunda-feira (5), o parlamento senegalês debate a data do pleito, após várias manifestações terem acontecido no domingo (4), em Dacar.


Manifestantes diante da Assembleia Nacional em Dakar, em 5 de fevereiro de 2024. 
AFP – JOHN WESSELS

A vitória do candidato do presidente nas eleições, que estavam previstas para dentro de três semanas, no Senegal, parecia incerta, o que pode ter levado ao adiamento.

“Há divisões no campo do presidente. Alguns partidários da Aliança pela República, o partido de Macky Sall, não estavam de acordo (com o adiamento). O que mais surpreendeu é que o presidente Macky Sall anunciou um adiamento das eleições, mas sem fixar uma data, enquanto a partir de 5 de abril, ele não será mais presidente do Senegal”, disse o especialista em África, Antoine Glaser, em entrevista à rádio France Inter.

Logo após o anúncio de Sall, o secretário geral do governo do Senegal e apoio do presidente, Abdou Latif Coulibaly, pediu demissão.

“Eu decidi sair do governo. Eu anunciei ao presidente da república imediatamente depois de seu discurso. Eu decidi sair porque eu queria recuperar minha liberdade. Minha liberdade de poder expressar minhas opiniões, de poder também dizer o que penso sobre o que acontece hoje em meu país, porque eu considero que existem momentos da história quando não podemos nos calar, quando não devemos respeitar a solidariedade governamental a ponto de ficar totalmente por fora”, disse Coulibaly à RFI.

Sall alegou que atrasava as eleições devido a motins no país e a uma crise política. Uma comissão de investigação constituída por deputados sobre dois juízes suspeitos de corrupção também é apontada como uma das razões do adiamento.

[Imagem de arquivo] O presidente do Senegal Macky Sall (esquerda) et Abdou Latif Coulibaly (direita), em 6 de dezembro de 2018, em Dacar, no Senegal.
[Imagem de arquivo] O presidente do Senegal Macky Sall (esquerda) et Abdou Latif Coulibaly (direita), em 6 de dezembro de 2018, em Dacar, no Senegal. AFP – SEYLLOU

O Senegal pode sofrer um golpe de estado?

Considerando o clima na região, onde vários golpes de Estado aconteceram nos países do oeste da África nos últimos meses, com um aumento importante do soberanismo e do pan-africanismo entre a juventude, que quer mudanças, a possibilidade de um golpe é real, de acordo com Glaser.

Os jovens querem Ousmane Sonko, um candidato anti-sistema, como presidente. Mas ele não foi autorizado a se apresentar nestas eleições, por estar preso. Seu partido foi dissolvido e seu substituto, que também está na prisão, continua a fazer campanha e mobiliza os jovens.

A França também é alvo dos ataques dos manifestantes que criticam o apoio francês aos presidentes do país e pedem “independência definitiva” da influência francesa. Os militantes falam de “imperialismo econômico”, de “ingerência francesa na África”.

“O fato de manter as mesmas pessoas no poder, piora a situação”, diz. Desde domingo, a violência tomou conta da capital, Dacar, com barricadas, incêndios e gritos de “Macky Sall ditador!” O adiamento, decidido pelo presidente no momento onde a campanha eleitoral deveria começar, foi vivido como uma provocação e uma maneira de se manter no poder.

Nesta segunda-feira, novas manifestações foram convocadas pela oposição em Dacar. O país passou por motins em 2021 e manifestações violentas em junho de 2023. Desde 1963, as eleições no Senegal sempre foram realizadas dentro do tempo previsto.

RFI

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