Piseiro vai chegar a Barretos com o tempo, diz João Gomes
A situação contrasta com as grandes festas juninas de São João do Nordeste, como as de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), que foram palco de uma polêmica há pouco mais de um mês.
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MAURÍCIO MEIRELES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Festa do Peão de Barretos começou nesta quinta-feira (17) se revelando mais uma vez um reduto fiel do sertanejo –e com pouquíssimo espaço no palco principal para o piseiro, um dos gêneros de maior sucesso no Brasil no momento.
A situação contrasta com as grandes festas juninas de São João do Nordeste, como as de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), que foram palco de uma polêmica há pouco mais de um mês. Lá, forrozeiros protestaram contra a invasão do sertanejo em detrimento de gêneros tradicionais nordestinos –que, por sua vez, não têm a mesma entrada em redutos sertanejos.
No caso de Barretos, a festa recebeu apenas a diva do piseiro Mari Fernandez na noite de abertura do palco Arena, o principal. De outros gêneros, o evento terá figuras como o DJ Alok e Pedro Sampaio.
“Barretos é bem tradicional, um lugar privilegiado. Acho que é o tempo [para o piseiro crescer em Barretos]. A música vai só crescendo”, diz o astro do piseiro João Gomes, que se apresenta neste sábado (19) em São Paulo, no festival Farraial.
“O piseiro é um gênero novo, tem muita lenha para queimar”, continua ele, baixando a fervura de qualquer polêmica entre os gêneros.
João concedeu uma entrevista à Folha antes de se apresentar em um evento fechado de uma agência de publicidade em São Paulo, na noite de quarta-feira (16). Na conversa, ele também se mostrou aberto à presença dos artistas sertanejos em festas tradicionais nordestinas.
“Muitos artistas fazem falta lá no Nordeste. Não é todo mundo que tem oportunidade de ver um show de Gusttavo Lima. É legal ele estar lá, tocando nas festas tradicionais nossas, porque o público é muito musical. O Nordeste não escuta só forró, escuta hip hop, escuta tudo”, afirma ele.
O cantor lembra ainda que, antes e depois das festas em si, há uma série de eventos tradicionais, como a Missa do Vaqueiro e a Corrida de Jegues de Petrolina (PE), onde ele vive.
João também não dá sinais de que pretende mudar o jeito como tem feito música até aqui. Desde o começo, a ausência da bateria no piseiro provocou mágoas entre instrumentistas, que esperavam ter oportunidades de trabalho com o sucesso do gênero.
Recentemente, Zé Vaqueiro, colega de João, apareceu usando o instrumento em suas apresentações. Seria o sinal de uma mudança vindo aí?
“Fazemos escolhas de acordo com nossas necessidades. Acho que consigo fazer um show quando estou ali com o teclado, me divirto com os meninos fazendo piseiro… Não sei como será o amanhã, mas sou feliz com o jeito como a gente faz música, acho que a galera gosta de ouvir o piseiro do jeito que ele é.”
Com 21 anos, o músico faz parte de uma geração que representa um encontro entre tradição e tecnologia. Em julho, ele fez um dueto com uma versão em inteligência artificial de Luiz Gonzaga, em São Paulo. Os dois cantaram o hit “Eu Tenho a Senha”, de João.
“Já foi, deixa isso quieto”, ri João quando questionado sobre com qual outro artista morto gostaria de cantar, revelando um medo dessa moda de inteligência artificial. “A tecnologia é um negócio muito perigoso, né? É um avanço, mas dá um medo, não dá? É um negócio assustador.
O artista está se preparando para tirar uma folga a partir das próximas semanas. Depois dos últimos anos vivendo na estrada, conta que tem conseguido desacelerar. Os planos para o descanso envolvem ir com a noiva, Ary Mirelle, a Orlando, nos Estados Unidos -a ideia é comprar o enxoval do filho dos dois, que deve nascer em fevereiro.
Na volta, João quer ficar em casa jogando futebol e bebendo cerveja.
“Dei uma pausa na bebida porque Ivete [Sangalo] pediu para eu dar uma maneirada. Enquanto eu estiver trabalhando, não vou ficar bebendo”, conta.
Outro passatempo para a hora do descanso são os mangás e animações japonesas, um dos assuntos que mais faz João se empolgar. Ele é fã de “One Piece” e tem uma tatuagem de um dos personagens da série.
“Fico chorando assistindo!”, conta. “São mil episódios, comecei antes da pandemia e estou aí. Ensina muito sobre a amizade, sobre um bocado de coisas. Tem analogia com o mundo em que a gente vive. Por mais bizarro que seja o desenho, ele traz um reflexo.”
A cultura japonesa também tem ocupado as leituras de João, que já contou ser fã de Machado de Assis e Paulo Coelho. Ele anda lendo o mangá “Jujutsu Kaisen”, de Gege Akutami -que também existe em versão anime. “Mas só tem duas temporadas, tenho que ler.”
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