Esporte

Payet: antes da fama, o início tímido em Reunião e o único título da carreira na ilha

A desenvoltura diante da multidão que aguardou Dimitri Payet no Aeroporto do Galeão contrasta com a timidez do início do sonho na pequena Ilha de Reunião. O maior estádio da região, que faz parte dos territórios franceses para além mar, tem capacidade para apenas 4 mil torcedores. A própria região tem uma área de pouco mais que o dobro da cidade do Rio de Janeiro. Em uma região que foi “descoberta” pelos europeus apenas por estar no meio de uma rota de comércio, quase que sem querer, um jovem, talentoso com a bola nos pés, teve a ousadia de sonhar.

E talvez nem ele mesmo tenha tido ideia do que o futuro o reservava: idolatria em Marseille, recepção calorosa no Rio de Janeiro. Brilho nos grandes palcos do futebol europeu, com a camisa do clube que sempre amou, e da seleção. Até receber a Cruz de Malta ao peito.  Para contar a história de Payet desde o início, conversei com Mickael Payet. Apesar de o sobrenome indicar, não trata-se de um parente do meia. “Payet é um nome muito comum na ilha”.

Um Silva deles. Mickael é jornalista esportivo, atualmente no Journal de l’île de la Réunion. Quando Payet começou, ele trabalhava em um jornal da liga de futebol local.  Mickael viu de perto o início de carreira de Dimitri. Na época, uma criança muito tímida, que tinha muito receito de deixar a ilha e ficar longe dos pais. Embora seu talento com a bola o garantisse passagem para os principais palcos do futebol mundial. O que, anos mais tarde, ele aceitou.

“Ele começou em um clube da cidade dele, Saint-Philippe, antes de se juntar ao maior clube da ilha, o JS Saint-Pierroise, com 11 anos de idade. Foi nesse clube que ele começou a chamar a atenção dos scouts ao longo de vários torneios disputados na França. Ele estava acima dos outros tecnicamente, era muito criativo e, além de tudo, sabia marcar gols. Já aos 12 anos, ele sabia que o destino dele era ter uma grande carreira. E eu não era o único a pensar assim”, descreveu Mickael.

Ainda muito jovem, e sempre com o apoio da família, Payet assinou com o Le Havre, da França, equipe parceira do JS Saint-Pierroise na época. A pouca idade, entretanto, pesou, e o menino não conseguiu ficar longe dos pais. Pediu para voltar para casa, o que ocorreu anos mais tarde.  Payet deixou a França e voltou ao futebol da ilha natal. “O fato de ele ter voltado para a ilha o fez mais forte quando decidiu sair novamente”, opinou Mickael. Foi no retorno, já com a camisa do AS Excelsior, que Dimitri conquistou até hoje o único título de sua carreira.

O único troféu Payet voltou para Reunião para estar perto da família e jogar futebol com os amigos. Mas, apesar de pensar em desistir do futebol profissional, o meia acabou tendo um trampolim ainda maior no Excelsior, conseguindo fazer história pelo time em 2004.  Na época, a ilha, que tinha pouco mais de 700 mil habitantes (hoje em dia, a população não cresceu muito – são pouco mais de 800 mil), via o nascimento de uma estrela. Payet, aos seus 17 anos, seguia sendo um fora de série no futebol local, como fora quando criança.

O Excelsior, que nunca havia sido campeão da copa nacional, chegou na decisão daquele ano com protagonismo do jovem. Na final, Payet, como relatam crônicas da época, foi “imparável”. No Stade Jean Ivoula, em Saint-Denis, no dia 5 de dezembro de 2004, Dimitri conquistou seu único título na carreira, em vitória sobre o US Stade Tamponnaise, por 2 a 1.

“Ele era o pequenininho no meio dos grandes naquele dia, com uma camisa que era muito grande para ele. Ele parecia estar flutuando no uniforme (risos). Mas com seus dribles, sua velocidade, ele colocou fogo no jogo. Ele sofreu o pênalti que permitiu o time vencer por 2 a 1”, contou Mickael, que escreveu a crônica daquela partida para o jornal da federação local.  Retorno para a França  Depois do título, Payet só queria seguir aproveitando a vida na ilha, ao lado da família e dos amigos.

A busca pelo futebol profissional não era sua prioridade, ainda mais depois de não ter se adaptado ao Le Havre. Mas o título pelo Excelsior, e seu desempenho fora de série no futebol local, fizeram Laurent Guyot, ex-jogador que trabalhava na base do Nantes, tentar levá-lo para a Europa novamente.

“Ele não queria voltar para a França, ele não queria ficar longe de sua ilha, mas seus pais e companheiros de time acabaram conseguindo convencê-lo. Tímido como ele era, ele anunciou que jogaria no Nantes”, lembrou Mickael.  Em 2005 mesmo, Payet estreou como profissional no Nantes, em duelo diante do Bordeaux, pela Ligue 1. Na partida seguinte, em janeiro de 2006, o meia marcou seu primeiro gol da carreira profissional.

O resto da história, nós já sabemos: Payet brilhou no futebol francês, se tornou ídolo do Marseille e conseguiu protagonismo na seleção francesa na Eurocopa de 2016. 12 anos depois do primeiro título.  Idolatria local Apesar de ter se adaptado a vida na França, Payet nunca deixou de lado suas raízes em Reunião. O jogador constantemente vai passar férias com a família e os amigos na ilha, e também é visto como o grande jogador da história da região, considerado a grande celebridade local.

“Mesmo que ele tenha jogado um bom tempo no Marseille, e aqui há muitos torcedores do Paris Saint-Germain, ele é muito popular na ilha. Ele foi recebido como herói após a campanha na Euro 2016. Tem uma arquibancada no estádio de Saint Philippe, cidade natal dele, com o nome do Payet. Ele é referenciado como o grande exemplo para as crianças que jogam futebol. É o maior jogador que a ilha já viu”, disse Mickael.

De Reunião, para o mundo. Dimitri Payet, que se acostumou a ser reverenciado como lenda em sua ilha natal e no estádio Vélodrome, em Marselha, chega ao Rio já com status de ídolo, como a grande esperança do Vasco em uma temporada difícil. O menino tímido de Reunião, que nunca almejou ser profissional, vestirá a camisa 10 do Vasco tentando trazer novos ventos para a Colina.

O Gol 

 

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