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Cinco anos após incêndio, Notre Dame de Paris recupera seu esplendor e vai reabrir em dezembro

Em 15 de abril de 2019, o mundo inteiro assistiu, chocado, a um incêndio espetacular que devastou a catedral Notre Dame de Paris. Cinco anos depois, a catedral recuperou seu esplendor e está se preparando para reabrir em menos de oito meses. Os principais desafios de restauração foram superados e a catedral está pronta para reabrir em 8 de dezembro, de acordo com Philippe Jost, presidente do órgão público francês que supervisiona sua reconstrução.


O incêndio da Catedral de Notre-Dame completa 5 anos neste 15 de abril de 2024.
 AP – Alexander Turnbull

Diante dos olhos de parisienses e turistas, a torre desse símbolo do cristianismo, projetada pelo arquiteto francês do século 19, Eugène Viollet-le-Duc, desabou sobre si mesma, juntamente com parte de seu telhado.

“Todos nós vivenciamos o choque da catedral após o incêndio, com suas visões de destruição: os buracos escancarados nas abóbadas, os escombros espalhados pelo chão”, lembra Philippe Jost, que assumiu o cargo de novo gerente do local da Notre Dame, em setembro.

O incêndio começou no final da tarde no sótão da catedral, um Patrimônio Mundial da Unesco e o monumento mais visitado da Europa, com 12 milhões de visitantes por ano antes da tragédia. No início da noite, enormes chamas ainda devoravam parte do telhado do edifício, liberando uma fumaça espessa e amarelada.

As imagens, transmitidas ao vivo em vários canais de notícias do mundo e nas redes sociais, despertaram forte emoção em todo o planeta.

Nesta foto de arquivo tirada com um telefone celular em 15 de abril de 2019, as pessoas observam a fumaça e as chamas que se erguem durante um incêndio na histórica Catedral de Notre-Dame, no centro de Paris.
Nesta foto de arquivo tirada com um telefone celular em 15 de abril de 2019, as pessoas observam a fumaça e as chamas que se erguem durante um incêndio na histórica Catedral de Notre-Dame, no centro de Paris. AFP – EDOUARD MAGRINO

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, reagiu na mesma noite, assim como o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que sugeriu no antigo Twitter que água fosse lançada por bombardeiros, uma manobra impossível, de acordo com a Segurança Civil Francesa.

Os cerca de 400 bombeiros mobilizados combateram as chamas por quase 12 horas. O incêndio foi controlado durante a noite e extinto pouco antes das 10h do dia seguinte.

Causas ainda desconhecidas

O que aconteceu para que o fogo se espalhasse tanto que quase reduziu a catedral a cinzas? Cinco anos depois, os tribunais franceses ainda estão procurando respostas, segundo Franceinfo.

Novas análises de especialistas estão em andamento, especialmente para checar todos os procedimentos uma segunda vez. “Novas análises podem ser realizadas usando novos instrumentos e maneiras, já que a ciência está em constante evolução”, explicou Serge Delhaye, um perito forense especializado em incêndios.

Os investigadores trabalharam arduamente no dia seguinte ao incêndio, coletando centenas de amostras de milhares de metros cúbicos de escombros. A possibilidade de crime foi rapidamente descartada.

Os 15 trabalhadores que estavam no local restaurando a torre foram interrogados por três dias. Inicialmente suspeitos de terem fumado e apagado suas pontas de cigarro incorretamente, eles foram inocentados posteriormente de qualquer irregularidade.

O incêndio começou exatamente nesse local, equipado com instalações elétricas temporárias. Para Laurent Valdiguié, um jornalista francês que investigou o incêndio, essa parece ser a explicação mais provável. A investigação ainda está em andamento e nenhuma hipótese foi definitivamente descartada.

Os franceses e turistas de várias nacionalidades deploram nesta segunda-feira (15) não apenas a catástrofe que atinge um ícone da arquitetura gótica, mas um monumento que coleciona grande parte da memória ocidental.

€ 846 milhões em doações

Naquela mesma noite, o presidente Emmanuel Macron lançou uma campanha nacional de arrecadação de fundos para ajudar a reconstruir o edifício, dizendo que queria que a Notre-Dame de Paris fosse reconstruída “dentro de cinco anos”, apesar dos muitos desafios que estavam por vir.

Os pedidos de doações se multiplicaram e, em uma grande onda de solidariedade global, foi arrecadado um total de 846 milhões de euros.

O projeto foi interrompido por algumas semanas devido à Covid, em 2020. Quatro anos depois, os principais desafios impostos por sua restauração foram superados, de acordo com Jost, que preside o órgão público responsável pela conservação e restauração da catedral desde a morte do General Jean-Louis Georgelin, em agosto passado.

Cerca de 250 empresas e centenas de artesãos, arquitetos e profissionais têm trabalhado nesse projeto extraordinário para permitir que a obra-prima da arte gótica seja reaberta.

Entre os desafios técnicos, o Jost cita a reconstrução idêntica, concluída no final de março, das estruturas da nave e do coro usando mais de mil árvores bicentenárias especialmente selecionadas das florestas francesas.

A catedral também recebeu seu pináculo de volta, com sua cruz e galo, afixados no topo em dezembro.

O grande órgão – o maior da França – havia sido poupado pelo incêndio, mas estava coberto de pó de chumbo. Após a limpeza, seus 8.000 tubos foram remontados um a um, e espera-se que sejam necessários seis meses para restaurar a “voz” de Notre Dame.

Quanto ao interior, a catedral recuperou uma luminosidade desconhecida na memória viva: a limpeza das paredes, abóbadas e decorações está quase concluída.

Até agosto de 2024, os telhados da nave, do coro e do pináculo, a restauração dos pisos e o trabalho no mobiliário artístico interno também devem ser concluídos.

A partir de setembro, o pátio e os acessos serão limpos e reformados em conjunto com a cidade de Paris, que é responsável pela reestruturação da área circundante, que deverá estar verdejante e recoberta de plantas até 2028.

O convite para a licitação para a criação de vitrais contemporâneos, conforme solicitado pelo presidente Macron, foi lançado na quarta-feira. No entanto, eles não devem ser instalados na catedral até 2026.

Tesouros inesperados descobertos durante escavações

Cinco anos após o incêndio na Notre Dame, e com a catedral apenas recuperando seu pináculo, outro projeto ainda está em andamento sob a abóbada gótica: escavações arqueológicas.

Conforme exigido pelo Código do Patrimônio Francês, as obras, como qualquer outro projeto de desenvolvimento, desencadearam escavações arqueológicas preventivas realizadas pelo Institut national d’archéologie préventive (Inrap) desde o início de fevereiro de 2022.

Após mais de dois anos de investigação, os arqueólogos estão se preparando para fornecer uma visão geral inicial das descobertas, que serão apresentadas no simpósio interdisciplinar “Nascimento e renascimento de uma catedral, Notre-Dame de Paris sob o olhar científico”, de segunda-feira 22, a quarta-feira 24 de abril.

Christophe Besnier, arqueólogo do Inrap responsável pelas escavações no cruzamento do transepto, e Dorothée Chaoui-Derieux, curadora de patrimônio do Drac Île-de-France, responsável pela supervisão científica e técnica da operação, disseram à revista Télérama que, após a escavação de trincheiras para enterrar as redes elétricas, uma grande operação foi realizada no interior da catedral, especialmente em seus corredores laterais.

Além de fragmentos do recinto que separa o coro da nave, cerca de cem túmulos que datam dos séculos 13 ao 19 acabaram de ser descobertos.

As investigações do ano passado sob a nave da catedral também descobriram níveis antigos que ainda estão no local. Estamos sob a catedral, no início da Idade Média, em um local bem preservado e pouco conhecido na Île de la Cité, moradia historica dos reis de França.

(RFI com agências e imprensa francesa)

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