O 2023 das taxas de câmbio
Quando a taxa de câmbio sobe, significa que é necessária uma quantidade maior de unidades da moeda do país ou da região
Quanto vale o real? Essa pergunta pode ser respondida de diversas formas. Em unidades de bens e serviços (por exemplo, quantas camisetas compro com R$ 100) dá a dimensão do poder de compra da moeda. Já quando é expressa em unidades de outra moeda, apresenta a relação que chamamos de taxa de câmbio, um dos preços mais importantes da (macro) economia. Em que pese a dificuldade em prever os seus comportamentos (eu não poderia deixar de ressaltar o desempenho do meu palpite educado em maio do ano passado, aqui ), acompanhá-la e compreender os seus movimentos é crucial para o desenho de estratégias empresariais, desenho de política econômica e planejamento domiciliar. Ou seja, é importante para todo mundo.
E como esses preços se comportaram em 2023? De maneira muito diferente, a depender a moeda que olhamos. A tabela que apresento neste texto considera a taxa de câmbio expressa em unidades da moeda corrente frente à um dólar (o padrão usual que adotamos no Brasil). Portanto, quando a taxa de câmbio sobe, significa que é necessária uma quantidade maior de unidades da moeda do país ou da região (por exemplo, mais reais brasileiros, mais pesos argentinos ou mais euros) para comprar o mesmo dólar dos EUA. Portanto, representa uma depreciação da moeda (a moeda perdeu valor frente ao dólar). Se, no entanto, ocorrer uma queda, a moeda se valorizou.
Observamos, por exemplo, que os problemas da Argentina não passaram despercebidos pelo mercado de câmbio. A moeda já havia se desvalorizado 107,8% até o dia 12 de dezembro de 2023, mas com as alterações feitas pelo novo governo, acumulou uma desvalorização de 359,7%. Para entendermos melhor o que isso significa, podemos pensar assim: o peso argentino hoje tem a capacidade de adquirir apenas 22% dos dólares dos EUA que conseguia comprar um ano antes!
Embora em uma magnitude muito diferente, observamos depreciações também no peso chileno, na moeda chinesa, e no Iene japonês. Já moedas como o real brasileiro, o peso colombiano e o peso mexicano (sem falar do euro e da libra esterlina) ganharam força frente ao dólar.
O que explica esses movimentos?
Como abordei em podcast sobre cenários para a taxa de câmbio (aqui o vídeo e apenas o áudio ), o que explica para mim esses movimentos é uma realocação de portfólio global, no qual os diferenciais de retorno (ajustados ao risco) dos títulos públicos em economias emergentes se mostraram atraentes (o Brasil chegou a ter uma taxa de juros efetiva quase 12 pontos percentuais acima daquela praticada nos EUA, por exemplo), ao passo que em economias mais desenvolvidas houve o inverso, como no Japão, por exemplo, que pratica uma taxa de juros 5,5 ponto percentual abaixo ao referencial norte-americano, favorecendo movimentos de saída de capital e operações nas quais toma-se emprestado recursos lá que podem ser aplicados em títulos de governos de outros países com remuneração mais atraente.
Para o euro e a libra, temos o que a meu ver foi predominantemente um ajuste de prêmio de risco, uma vez que a taxa de juros do Reino Unido se realinhou à dos EUA e a taxa de juros da Zona do euro, embora tenha ficado quase dois pontos percentuais abaixo do análogo norte-americano, corrigiu um pouco dessa diferença.
É importante acompanhar o apetite por risco por parte do investidor internacional para compreender as oscilações das moedas no curto prazo. Será que com as mudanças de política monetária nas economias emergentes e nos EUA e com os riscos geopolíticos que se acumulam no horizonte teremos um movimento inverso, com os investidores optando por ativos mais seguros? Mas a turbulência que pode emergir do processo eleitoral nos EUA pode dificultar ainda mais essa análise. O ano de 2024 mal começou, mas algo me diz que promete forte emoções a se manifestarem na volatilidade do mercado de câmbio. Acompanhemos!
IG