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Brasil brilha no Mundial de Atletismo Paralímpico de olho em Paris-2024

As cores do Brasil dominam o estádio Charléty, em Paris, com capacidade para 20 mil pessoas. O país tem a maior delegação do campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico: 54 atletas, mais do que a China, com 49 participantes, e dos Estados Unidos, com 45. A pouco mais de um ano dos Jogos Paralímpicos na capital francesa, o evento serve como um ensaio geral.


O Brasil tem a maior delegação do campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico: 54 atletas.
 © RENE-WORMS Pierre

Entre os destaques do Brasil está o bicampeão paralímpico, o sul-mato-grossense Yeltsin Jacques, que levou o ouro nos 1.500m T11, com direito a novo recorde do campeonato. Com o guia Edelson Ávila, ele venceu a prova com o tempo de 4min03s83. Yeltsin também ficou com o bronze nos 5.000m para deficientes visuais. “O Brasil está aqui para brigar entre as cinco maiores potências esportivas do mundo”, disse em entrevista à RFI. “No esporte paralímpico, a gente está produzindo muito bem. A gente está fazendo um bom trabalho, toda equipe multidisciplinar do Brasil é extremamente profissional e a gente vai sair daqui com as medalhas. O Comitê Paralímpico está trabalhando para isso. A gente tem muito orgulho de chegar nas grandes competições do mundo e dizer ‘eu sou brasileiro’, poder abraçar essa bandeira e poder levar o ouro pro Brasil”, completa, orgulhoso.

Yeltsin Jacques (e) levou o ouro nos 1.500m T11, com direito a novo recorde do campeonato. Ele correu com o guia Edelson Ávila (d). Em Paris, em 13 de julho de 2023.
Yeltsin Jacques (e) levou o ouro nos 1.500m T11, com direito a novo recorde do campeonato. Ele correu com o guia Edelson Ávila (d). Em Paris, em 13 de julho de 2023. © RFI

Raíssa Rocha Machado faturou a prata no lançamento de dardo F56, para atletas que competem sentados. A baiana, que nasceu com má-formação nas pernas, atingiu a marca de 23,05m. “Estou feliz, né? Acho que eu cumpri com o meu objetivo, que era subir ao pódio, independentemente da cor da medalha”, comemora. “Se Deus quiser, no ano que vem vamos arrasar aqui nas Paralimpíadas de Paris e subir no pódio também, mas com foco no ouro”, promete. “A força vem de lutar pelos nossos sonhos, objetivos e mostrar para as pessoas que a deficiência é só um detalhe e que a gente também é capaz, sabe? A gente está mostrando isso e vamos mostrar muito mais”, completa.

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O carioca Ricardo Mendonça, abriu o quadro de medalhas de ouro para o Brasil na competição, nos 100m da classe T37, para atletas com paralisia cerebral. “Eu estou voltando de lesão e a gente conseguiu fazer um trabalho muito assertivo. A gente não pôde fazer todos os exercícios que precisava, mas fez todos que foram necessários para conseguir a medalha”, relata. “Então, estou muito feliz. E eu quero agradecer a todo mundo que torceu, principalmente ao meu técnico, meu fisioterapeuta e à equipe do CPB. E minha família, claro”, acrescenta o corredor. “Todo o trabalho que a gente vem fazendo visa os Jogos Paralímpicos de 2024 aqui em Paris. E já vimos que a cidade traz sorte para mim, né?”, comemora.

O atleta voltou a subir ao ponto mais alto do pódio, ao garantir o seu segundo ouro no Mundial de Paratletismo de Paris, na quarta-feira (12), com tempo de 22,59 minutos, nos 200 metros categoria T37.

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Já Fabrício Ferreira, do Mato Grosso do Sul, levou prata dos 100m na classe T13 (baixa visão) e destaca o bom desempenho do Brasil na competição. “O Brasil, no universo paralímpico, é uma potência grandiosamente forte. E a gente acredita que vai vir para quebrar o recorde de medalhas do Campeonato Mundial de Dubai, de 2019″, acredita.

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Teste para Paris-2024

O Mundial de Atletismo Paralímpico de Paris começou no sábado (8) e vai até segunda-feira (17). Daniel Brito, gerente de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro, explica a importância do evento. “É um teste muito grande para o que pode ser visto e pode ser esperado durante os Jogos Paralímpicos de Paris. Ainda tem um campeonato mundial no ano que vem, em Kobe, no Japão, em maio, mas esse aqui, por ser em Paris, nessa época do ano, por não ter tido campeonato mundial desde os Jogos Paralímpicos de Tóquio, este campeonato tem um peso muito maior e mais importante para vermos o que vai ter aqui e para projetar o que vai ser Paris no ano que vem”, afirma.

Em agosto de 2024, 4.400 atletas virão acompanhados de suas equipes e apoiadores. Por isso, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos acompanha de perto os bastidores da competição: alojamento, equipamentos e mesmo a recepção do público. “É um grande teste. O que podemos melhorar ou fazer diferente? Há equipes do Comitê Olímpico acompanhando o evento e buscamos trabalhar juntos para que a experiência dos Jogos seja magnífica”, explica Adrien Balduzzi, diretor de operações do Mundial.

Um dos desafios será o transporte para cadeirantes. “Encontrar ônibus é fácil, já carros adaptados a pessoas com mobilidade reduzida é mais complicado, explica Julien van Temsche, que trata dessas questões no Comitê Organizador dos Jogos. “Percebemos que o país ainda não está suficientemente desenvolvido na questão da acessibilidade. Há hotéis que têm estações de metrô ao lado, mas não são acessíveis”, lamenta.

Pela primeira vez, o Mundial de atletismo conta com o serviço de audiodescrição. Um grande desafio, mas necessário, observa Ludivine Munos, que já foi campeã paralímpica de natação e hoje é responsável pela inclusão no Comitê Organizador dos Jogos. “A acessibilidade não é simplesmente instalar rampas. Envolve uma série de medidas como, por exemplo, quando você tem provas de salto em distância e salto em altura tem de descrever o que se passa, não apenas comentar uma disputa, mas descrever para que aqueles que não veem possam acompanhar o ambiente do estádio”, diz

Um ambiente a que os brasileiros se adaptaram muito bem. Arremessar peso sem enxergar é algo que a mineira Izabela Campos domina. Ela perdeu a visão ainda criança, após ter contraído sarampo. “É muito bom ser desafiada todos os dias, né? Para a gente conseguir pular os obstáculos do esporte. E sempre com esse gostinho de quero mais, pois acho que é isso que deixa o esporte fascinante”, comenta a atleta. “Eu falo que a vida é tão boa, é tão bom viver para a gente ficar preso em pequenas coisas, né? Então, a gente tem que dar valor a tudo o que tem, né? E agradecer a Deus todos os dias por todas as coisas”, conclui.

Encontro marcado então no ano que vem, quando os brasileiros pretendem confirmar que o país é uma potência paralímpica.

Izabela Campos, atleta brasileira de Minas Gerais.
Izabela Campos, atleta brasileira de Minas Gerais. © RFI

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