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Apesar de pressão internacional, EUA vetam resolução do Conselho de Segurança sobre trégua em Gaza

Apesar da pressão internacional para suavizar seu apoio a Israel, os Estados Unidos voltaram a impedir na terça-feira (20) que o Conselho de Segurança da ONU exigisse um cessar-fogo "imediato" em Gaza, fazendo circular um texto alternativo sobre uma possível trégua sob condições.


EUA voltam a se opor a projeto do Conselho de Segurança da ONU sobre cessar-fogo imediato em Gaza, terça-feira, 20 de fevereiro de 2024. 
AP – Seth Wenig

O projeto de resolução, que exigia “um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes”, recebeu 13 votos a favor, uma abstenção (Reino Unido) e um contra. Este é o terceiro veto americano desde o início da guerra entre Israel e o Hamas.

A oposição americana “irresponsável e perigosa” envia a mensagem de que Israel pode “continuar a fazer o que quiser impunemente”, criticou o embaixador palestino, Riyad Mansour.

O Hamas também denunciou o que chamou de “sinal verde” para Israel cometer “mais massacres” em Gaza.

“Os erros de hoje terão um preço para nossa região e para nosso mundo amanhã (…) Como a História vai nos julgar?”, questionou o embaixador argelino Amar Bendjama, que trabalhou no texto durante mais de três semanas.

O projeto argelino também se opôs, em particular, ao “deslocamento forçado da população civil palestina”, enquanto Israel mencionou uma evacuação de civis antes de uma ofensiva terrestre em Rafah, onde 1,4 milhão de pessoas estão aglomeradas no sul da Faixa de Gaza.

Como os textos anteriores, criticados por Israel e pelos Estados Unidos, o documento de terça-feira não condenava o ataque do Hamas em 7 de outubro contra Israel.

Críticas

Além da Rússia e a China, que novamente denunciaram o veto americano, muitos outros membros do Conselho como França, Malta, Eslovênia e Serra Leoa também lamentaram esta decisão.

“O custo humano e a situação humanitária em Gaza são intoleráveis ​​e as operações israelenses devem parar”, insistiu o embaixador francês Nicolas de Rivière.

Uma ofensiva terrestre em Rafah “nos levaria a um caminho sem volta”, acrescentou o representante esloveno, Samuel Zbogar. “É nosso dever reagir antes de acordar no meio de um pesadelo.”

Os Estados Unidos alertaram neste fim de semana que o texto argelino não era aceitável. “Compreendo o desejo do Conselho de agir com urgência (…) mas este desejo não pode cegar-nos para a realidade no terreno, e não pode minar o único caminho, repito, o único caminho que conduz a uma paz duradoura”, disse a embaixadora americana na ONU Linda Thomas-Greenfield, na terça-feira, insistindo que a adoção desta resolução teria sido “irresponsável”.

Principais apoiadores de Israel, os Estados Unidos temem prejudicar as difíceis negociações diplomáticas para obter uma trégua, incluindo uma nova libertação de reféns.

Neste contexto, um projeto de resolução alternativo circulou na assembleia. Embora até agora se tivessem oposto sistematicamente à utilização do termo “cessar-fogo”, vetando dois textos em outubro e dezembro, a versão dos EUA apoia um cessar-fogo, mas não imediato e sob condições.

Cessar-fogo temporário

Fazendo eco das recentes declarações de Joe Biden, o texto cita um “cessar-fogo temporário em Gaza assim que for viável” e com base numa “fórmula” que inclui a libertação de todos os reféns.

O projeto americano, sobre o qual não está prevista qualquer votação nesta fase, também é firme em relação a Rafah, alertando que “uma ofensiva terrestre em grande escala não deve ocorrer nas atuais condições”.

Mas alguns questionam o objetivo dos Estados Unidos com este texto. “Eles realmente querem esta resolução ou querem pressionar por um veto?”, observou anonimamente uma fonte diplomática, referindo-se à alta probabilidade de um veto russo a um texto produzido por americanos.

Em qualquer caso, o projeto americano “deixará Israel nervoso”, comentou à AFP, Richard Gowan, analista do International Crisis Group. “Os Estados Unidos estão finalmente usando o Conselho de Segurança como plataforma para mostrar os limites de sua paciência com a campanha israelense.”

O Conselho, há anos muito dividido sobre a questão israelo-palestina, só conseguiu adotar duas resoluções sobre o assunto desde 7 de outubro, essencialmente humanitárias. Sem muitos resultados: a entrada de ajuda em Gaza continua a ser insuficiente.

RFI

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