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Ucrânia: Zelensky diz que explosão em barragem foi ‘ecocídio brutal’ e alerta para risco ambiental

A destruição parcial da barragem de Kakhovka, no sul da Ucrânia nesta terça-feira (6), levou à inundação de dezenas de localidades. Milhares de habitantes precisaram ser retirados de suas casas, provocando protestos internacionais. Moscou e Kiev se acusam mutuamente pelo ataque. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convocou um Conselho de Segurança Nacional de emergência.


Área inundada após ataque à barragem na Ucrânia. Em 6 de junho de 2023. Captura de vídeo via REUTERS – KHERSON REGIONAL STATE ADMINISTRATION
via REUTERS – KHERSON REGIONAL STATE ADMINISTR

A destruição da barragem de Kakhovka terá “consequências terríveis na vida das pessoas e no meio ambiente”, lamentou Zelensky ao enviado especial do papa Francisco, em visita a Kiev.

“Mais de 40.000 pessoas correm o risco de serem atingidas em áreas inundadas. As autoridades ucranianas estão retirando mais de 17.000 pessoas. Infelizmente, mais de 25.000 civis estão no território sob controle russo”, anunciou o procurador-geral ucraniano, Andriï Kostin. “Nesta fase, 24 localidades na Ucrânia foram inundadas”, detalhou o ministro do Interior ucraniano, Igor Klymenko.

Russos providenciam 50 ônibus

As autoridades instaladas pelos russos nas regiões ocupadas disseram ter iniciado a retirada da população de três localidades, mobilizando cerca de cinquenta ônibus. Vladimir Leontiev, o prefeito nomeado por Moscou em Nova Kakhovka, onde a barragem está localizada, disse que a cidade está submersa e que 900 de seus habitantes foram retirados.

A central hidroelétrica desta obra erguida na década de 1950 – durante a era soviética – que foi tomada pelos russos no início de sua ofensiva na Ucrânia, está “completamente destruída”, assegurou o chefe da operadora ucraniana Ukrhydroenergo. A barragem permitia o abastecimento de água à península da Crimeia, anexada em 2014 pela Rússia.

“Ecocídio”

De acordo com as autoridades ucranianas 150 toneladas de óleo diesel vazaram no rio Dnipro e a destruição da barragem de Nova Kakhovka suscita temores de consequências significativas para a fauna e a flora desta parte do sul do país. “Os danos ambientais são preocupantes”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba. “Ecossistemas inteiros estão enfrentando danos irreversíveis e de longo prazo causados pelas inundações”, alertou.

A destruição parcial da barragem é “o maior desastre ambiental causado pelo homem na Europa em décadas”, acusou Zelensky, que culpa a Rússia por esse “ecocídio brutal”.

O presidente ucraniano acusou os russos de “detonarem uma bomba” na barragem. “É fisicamente impossível explodir do lado de fora, com bombardeios”, disse ele, rejeitando a versão dada por Moscou. “O mundo deve reagir. A Rússia está em guerra contra a vida, contra a natureza, contra a civilização”, insistiu Zelensky. Isso “terá consequências terríveis na vida das pessoas”, lamentou o presidente, considerando que um cessar-fogo na Ucrânia “não levará à paz”.

Para Kiev, os russos agiram para tentar “conter” a ofensiva de seu Exército. Há meses, os ucranianos afirmam estar preparando uma vasta operação destinada a forçar as tropas russas a se retirarem dos territórios ocupados.

Na véspera, a Ucrânia havia afirmado ter ganho terreno perto de Bakhmout, no leste, enquanto relativizava a extensão das “ações ofensivas” realizadas em outras partes do front.

A Rússia, por sua vez, diz que está repelindo ataques em grande escala, embora tenha reconhecido, nesta terça-feira, a morte de 71 soldados nos últimos dias, enquanto outros 210 ficaram feridos. O Exército russo raramente relata suas perdas. “Tentativas de ataque foram frustradas. O inimigo não alcançou seus objetivos”, disse o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu.

Sobre a barragem, o Kremlin denunciou um ato de “sabotagem deliberada” por Kiev e rejeitou “firmemente” as acusações ucranianas.

Risco nuclear

A destruição parcial da barragem de Kakhovka levantou novas preocupações em relação à usina nuclear de Zaporíjia, localizada a 150 quilômetros rio acima. São as águas da barragem que fornecem refrigeração à usina.

Não há “nenhum perigo nuclear imediato”, enfatizou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), insistindo que seus especialistas estavam monitorando a situação.

Assim como a barragem, a usina está localizada em uma área ocupada pelos russos após a invasão, lançada em 24 de fevereiro de 2022.

“A inundação está bem diante de nossos olhos. Ninguém sabe o que pode acontecer agora”, comentou Viktor, morador de Kherson, a maior cidade ao redor da represa, tomada em novembro de 2022 pelos ucranianos.

“Esses porcos devem fugir o mais rápido possível, devem ser expulsos! Isso não é vida! Eles atiram aqui, inundam ali!”, completou Lioudmila, outra moradora, referindo-se aos ocupantes russos.

(Com informações da AFP e da RFI)  

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