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Onda de violência no Equador pode migrar para países vizinhos? Entenda

Considerado um “problema continental”, o motim no Equador, inflamado pelo narcotráfico, é um problema para países na América do Sul

STRINGER / AFP

Iniciada na última terça-feira (9/1), a onda de violência que colocou o Equador em “estado de guerra” continua sem solução e liga o alerta de países vizinhos sobre uma possível expansão do conflito. Nos últimos dias, o Peru posicionou equipes das forças de segurança nacional nas fronteiras para proteger o território de narcotraficantes equatorianos.

O caos nas ruas equatorianas, provocado pela fuga do líder da maior facção do país, José Adolfo Macías Villamar, 44 anos, mais conhecido como Fito, desencadeou uma reação mais dura do governo equatoriano e inflamou a atuação de grupos de narcotraficantes, caracterizada pelo descontrole e pela violência.

Até o momento, o motim deixou 18 mortos, 329 presos e 41 resgatados. O país sul-americano está em estado de “conflito armado interno”. De acordo com o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador, almirante Jaime Vela, os detidos estariam vinculados aos grupos Tiguerones, Los Lobos e Los Choneros.

Estimam-se que 195 veículos, nove embarcações e 19 equipamentos de comunicação roubados tenham sido recuperados. Além disso, mais de 60 armas de fogo de diferentes calibres foram apreendidas, além de 418 munições de 28 dispositivos explosivos e 230 kg de entorpecentes.

Polícia Nacional do Equador contabilizou as seguintes vítimas:

  • oito pessoas mortas em ataques no porto de Guayaquil, no sudoeste do país;
  • dois policiais “cruelmente assassinados por criminosos armados” na cidade vizinha de Nobol;
  • três corpos encontrados dentro de um carro incinerado; e
  • cinco mortos em confronto com agentes.

Considerado um “problema continental” pela ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, nos últimos anos, o narcotráfico da América do Sul se adaptou para atender às demandas do mercado de drogas dos Estados Unidos (EUA) e da Europa.

Metrópoles conversou com especialistas e analistas em conflitos na América do Sul e em relações internacionais a fim de entender as proporções domésticas e exteriores dessa espécie de “guerra civil” entre o Estado e narcotraficantes.

A presença do narcotráfico na América

É consenso entre eles que o motim armado é um problema estrutural do Equador, bem como é pouco provável que esse cenário de insegurança se espalhe entre os países sul-americanos. Isso porque, além de ser uma questão interna, cada grupo paramilitar e de narcotráfico tem presença e forma de atuação diferente em seus respectivos países, assim como os Estados têm ações desmobilizá-los.

Roberto Rodolfo Georg Uebel, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), não acredita em uma expansão do conflito no continente e diz que, tradicionalmente, essas questões ficam restritas ao território dos próprios países.

“Na América do Sul, diferentemente do que acontece na Europa e no Oriente Médio, não temos esse efeito de escala, de ultrapassar as fronteiras nacionais”, explica Uebel. Portanto, para ele, a chance é “quase remota”.

Ele acrescenta que “o narcotráfico é um problema continental. Da Argentina ao Canadá”. No entanto, com intensidades e atores diferentes. Uebel ressalta que essa problemática não é exclusiva da América do Sul.

Vito Villar, analista de política internacional da BMJ Consultores Associados, diz que “o problema em questão não é recente e, de fato, merece ser abordado sob uma perspectiva continental, considerando sua natureza transfronteiriça”.

Para o analista de política internacional, é necessário levar em consideração os aspectos individuais de cada país, as políticas de segurança e a capacidade de enfrentamento ao narcotráfico e à insegurança.

“Países com menor histórico de enfrentamento a narcogrupos, como Chile e Argentina, observam com maior atenção essa problemática, buscando prevenir a ocorrência do mesmo desafio que o Equador enfrenta nos últimos anos”, explica.

Contudo, mesmo com baixa chance de conflito continental, Villar afirma que a onda de violência em solo equatoriano pode impactar consideravelmente a segurança e a economia nos países vizinhos.

Motim no Equador

O país vive uma das piores crises de segurança dos últimos anos. O caso se agravou após a fuga de Fito de uma prisão de segurança máxima em Guayaquil, no último domingo (7/1).

Em resposta à fuga do narcotraficante, o presidente do Equador, Daniel Noboa, decretou estado de “conflito armado interno” no país e passou a classificar as facções criminosas como grupos terroristas.

Com a medida, o Noboa ordena que as Forças Armadas façam operações militares para neutralizar “organizações terroristas e atores beligerantes não estatais”. São tratados como organizações terroristas:

  • Águilas
  • Águilas Killer
  • Ak47
  • Caballeros
  • Oscuros
  • ChoneKiller
  • Choneros
  • Covicheros
  • Cuartel de las Feas
  • Cubanos
  • Fatales
  • Gánster
  • Kater Piler
  • Lagartos
  • Latin Kings
  • Lobos
  • Los p.27
  • Los Tiburones
  • Mafia 18
  • Mafia Trébol
  • Patrones
  • R7
  • Tiguerones

Com a escalada da violência no Equador nos últimos dias, Argentina, Bolívia e Colômbia decidiram enviar suas respectivas forças de segurança para ajudar o governo equatoriano. O Peru determinou o posicionamento “imediato” de combatentes na fronteira, com o objetivo de reforçar a segurança nacional.

Buscando reduzir a população carcerária e os gastos, o presidente Daniel Noboa afirmou, nessa quarta-feira (10/1), que o Estado começará a deportar prisioneiros estrangeiros. Para se ter uma noção, cerca de 1,5 mil colombianos estão detidos em penitenciárias no Equador — a maioria ligada ao tráfico de drogas.

Metrópoles 

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