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De volta em ‘Renascer’, Juliana Paes diz como lida com críticas, fala sobre vaidade e revela ter enfrentado crises de ansiedade: ‘Momentos difíceis’

A atriz de 44 anos afirma ter amadurecido em ‘vários aspectos’ e compartilha como é criar dois filhos homens: ‘Criar meninos num país muito machista é um trabalho diário’

Perto de completar 45 anos, em março, Juliana Paes diz que adoraria ter ouvido na sua juventude os conselhos ditos por Jacutinga a Maria Santa (Duda Santos) na releitura de “Renascer”, novela das nove que estreia nesta segunda-feira (22). Interpretada agora pela atriz, a personagem vivida por Fernanda Montenegro na primeira versão da trama, em 1993, é a dona do bordel do vilarejo onde se passa a história. No folhetim, a mulher acolhe Santinha e compartilha suas experiências de vida com ela depois que a jovem é largada pelo pai na porta de sua casa. Segura de si, a cafetina é quem dá o empurrão que faltava para o protagonista José Inocêncio (Humberto Carrão) se casar com Maria Santa. “A sabedoria da Jacutinga não foi aprendida nos livros, veio pela dor, pelas perdas, pela solidão”, reflete Juliana, acrescentando que a prostituição ainda é encarada com muita hipocrisia pela sociedade: “O sexo tem poder político desde que o mundo é mundo. E isso está colocado na trama”.

No papo com a Canal Extra, a atriz conta o que a motivou a interpretar a personagem, fala sobre vaidade, revela ter enfrentado crises de ansiedade nos últimos anos, diz como lida com críticas e compartilha como é criar dois filhos homens. A entrevista a seguir foi feita antes de Juliana, que já encerrou suas gravações em “Renascer”, viajar de férias com a família para a Europa. Na França, na última quarta-feira (17), ela foi surpreendida com a notícia da morte de seu pai, o PM aposentado Carlos Henrique Paes, que tinha Alzheimer e estava internado desde outubro com complicações de saúde.

O que a motivou a aceitar o convite para interpretar Jacutinga?

Recebi esse convite com muita surpresa. Na hora, pensei: “Gente, tem alguma coisa errada aí”. Mas entendi que havia uma nova proposta para a personagem nessa releitura. Ela vai ter uma grande passagem de tempo, um arco dramático muito diferente da primeira versão. E muitas outras coisas me animaram. “Renascer” tem um lugar cativo no meu coração, faz parte da minha memória afetiva. Outra coisa que me deixou com muita vontade de fazer a novela são as falas da Jacutinga. Nessa releitura, ela veio com a tarefa de fazer a Maria Santa entender o que é o feminino. Elas diz coisas que eu gostaria de ter dito pra mim mesma há 20 anos.

Juliana Paes como Jacutinga em 'Renascer' — Foto: Fábio Rocha/Rede Globo
Juliana Paes como Jacutinga em ‘Renascer’ — Foto: Fábio Rocha/Rede Globo

Que tipo de coisas ela diz?

São textos que falam das mulheres que sabem de si, do que elas podem. É tudo dito com poesia, de um jeito bonito, mas sem uma didática perfeita. Ela fala do papel da mulher dentro do relacionamento, de equidade… Que o homem pode ser marido, mas não é dono da mulher. E transforma essa menina que não sabia nada da vida. A sabedoria da personagem não foi aprendida nos livros, veio pela dor, pelas perdas, pela solidão. Apesar de ter seus 40 e poucos anos, Jacutinga já viveu muita coisa. Por isso é acolhedora, mas sem ser piegas ou molenga. Ela precisa ter uma força para lidar com os poderosos coronéis que frequentam sua casa.

Juliana Paes volta ao ar em ‘Renascer’ — Foto: Vinícius Mochizuki
Juliana Paes volta ao ar em ‘Renascer’ — Foto: Vinícius Mochizuki
O sexo tem poder político desde que o mundo é mundo. E isso está colocado na trama. A casa de Jacutinga é mais um ponto naquela cidade.”
— Juliana Paes

Como a trama aborda a prostituição? Qual é a sua opinião sobre o assunto?

É algo que acontece desde sempre. Se a gente não vivesse numa sociedade tão hipócrita, a profissão já teria sido regulamentada. O sexo tem poder político desde que o mundo é mundo. E isso está colocado na trama. A casa de Jacutinga é mais um ponto naquela cidade. Assim como a farmácia e a quitanda. Não existe nenhum senso de proibição. Está colocada na história como deveria ser. O prostíbulo não é só um lugar onde apenas se vende sexo. Existe uma função social. Muitas mulheres que foram completamente marginalizadas, ou expulsas de casa, foram acolhidas ali. A própria Jacutinga não escolheu aquela vida.

Jacutinga, papel de Fernanda Montenegro na versão original de "Renascer", será vivida por Juliana Paes no remake — Foto: Fotos de reprodução
Jacutinga, papel de Fernanda Montenegro na versão original de “Renascer”, será vivida por Juliana Paes no remake — Foto: Fotos de reprodução

Como é interpretar uma personagem que já foi feita por Fernanda Montenegro?

Comparações sempre vão existir e são pertinentes quando se trata de um remake. Inevitável. Mas o público pode esperar uma Jacutinga muito diferente. É óbvio que fico com medo. Chego para gravar com aquela insegurança. Penso: “Eu sou um blefe!”. Mas ao mesmo tempo me sinto lisonjeada por ter sido chamada. O que já foi feito com perfeição não dá para tentar copiar. Seria um desrespeito. Eu reinvento a Jacutinga agora e, desta forma, homenageio o que já foi feito.

Como foi pensada a caracterização da Jacutinga e como será a passagem de tempo?

Ela tem um figurino colorido, um cabelo volumoso, de quem ocupa espaço. Jacutinga é uma dessas pessoas que têm um pacto com a vida e decidiu não ser mais uma vítima. Ela transformou suas dores em fogo para viver. Na segunda fase, vocês vão me ver com próteses no rosto para criar esse envelhecimento. O tempo marcou o rosto dela, mas Jacutinga mantém uma vaidade.

Juliana Paes volta ao ar em ‘Renascer’ — Foto: Vinícius Mochizuki
Juliana Paes volta ao ar em ‘Renascer’ — Foto: Vinícius Mochizuki

Como foi se ver envelhecida no espelho?

Eu me entrego 100% para a caracterização e não imponho nenhuma barreira quando o assunto é o visual das minhas personagens. Gosto de estar desmontada, descabelada… Quando a gente se vê no espelho, a personagem já está posta ali. Tenho plena consciência de que com 44 anos não vou ter o mesmo tom de voz de uma mulher de 70, por exemplo, mas a caracterização já é metade do meu trabalho nesse projeto.

E como você lida com a passagem do tempo na sua vida?

Não é fácil envelhecer aos olhos do público num país que também é etarista. Mas sou grata por termos mulheres que se mostram com seus cabelos brancos, com seus corpos diversos. Eu sou inspirada por elas. Ainda leva um tempo pra gente se aceitar. Eu não posso mentir e dizer que não faço um laser para melhorar meu colágeno. E ainda me pego pensando em como melhorar isso ou aquilo. O que posso cuidar ou deixar passar? Será que deixo o cabelo ficar branco? Ainda não me sinto pronta. Mas tudo isso são questões para mim.

Juliana Paes e família — Foto: Reprodução/Instagram
Juliana Paes e família — Foto: Reprodução/Instagram
Eu vivi processos de ansiedade na pandemia. Acho que todo mundo ficou um pouco adoecido naquele momento”
— Juliana Paes

Como lida com os comentários maldosos e as cobranças?

Aprendi a ter uma relação mais saudável com rede social, por exemplo. Hoje não estou mais com a carinha esticada que já tive, mas amadureci em tantos aspectos! Já não me dói mais quando fazem certos comentários.

Como você cuida da sua saúde mental?

Eu vivi processos de ansiedade na pandemia. Acho que todo mundo ficou um pouco adoecido naquele momento. Mas o convite para fazer “Pantanal” (2022) me trouxe de volta. Falei isso na terapia: a balança do trabalho é o que me bota no eixo. No pós-pandemia, eu me vi em muitos momentos difíceis, sem muita vontade. Não posso dizer que fiquei deprimida porque respeito muito quem passa por isso. Mas tive crises de ansiedade muito complicadas, que demoraram a passar.

Juliana Paes e os filhos — Foto: Reprodução/Instagram
Juliana Paes e os filhos — Foto: Reprodução/Instagram
São três homens aqui em casa, e fico tentando driblar os códigos sociais que são colocados para os meninos. Criar filhos homens num país muito machista é um trabalho diário”
— Juliana Paes

Além de “Renascer”, você gravou no ano passado a série “Vidas bandidas” (da plataforma Star+) e a novela “Pedaço de mim” (Netflix), trabalhos que ainda vão estrear. Como foi essa experiência fora da Globo?

O ano passado foi muito atarefado. Um período de experimentação e de plantio. A gente fica mal-acostumada com um contrato fixo. Quando mudei minha forma de contrato com a Globo, não tinha um manual para seguir. Agora sou livre pra voar, mas ao mesmo tempo me deu uma sensação de estar perdida, não saber por onde começar. Estava a fim de fazer coisas diferentes, mas não sabia quem eram as pessoas com quem tinha que conversar.

Com tantos trabalhos, como fica o tempo para a família?

O meu marido (Carlos Eduardo Baptista) briga comigo dizendo que trabalho muito. Os meus filhos (Pedro, de 13 anos, e Antônio, de 10) também reclamam que eu não paro. Agora em 2024 vou me voltar mais para a minha família. Também quero muito experimentar coisas novas.

Como é ser mãe de dois meninos?

Penso nisso o tempo todo. São três homens aqui em casa, e fico tentando driblar os códigos sociais que são colocados para os meninos. Criar filhos homens num país muito machista é um trabalho diário. Mas adoro esse papel de mãe!

Ficha técnica:

Texto: Zean Bravo

Fotos: Vinícius Mochizuki

Assistência de fotografia: Rodrigo Rodrigues e Josias Vieira

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