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Ataques como os de Blumenau são raros na Europa, mas não menos violentos

O ataque contra crianças da creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), teve forte repercussão na Europa. Sacudido por atentados terroristas na última década, o Velho Continente contabiliza raros incidentes em escolas, mas não menos chocantes.


Moradores de Blumenau (SC) prestam homenagem às vítimas do ataque à creche Cantinho Bom Pastor, em 5 de abril de 2023.
AP – Andre Penner

“Uma matança brutal”, diz o jornal espanhol El País sobre as agressões em Blumenau. O maior canal de TV aberto da França, a TF1 descreve o incidente como “um drama de uma violência rara”. Para o canal BFM TV, foi “um ato monstruoso”.

De fato, a Europa não está acostumada com esse tipo de violência. Na França, nos últimos anos, agressões visando escolas estiveram relacionadas a terrorismo.

Em 2012, em Toulouse (sul) o atentado contra a escola judaica Ozar Hatorah abriu a série de atos jihadistas que o país viria a viver nos anos seguintes. Na entrada do estabelecimento, o agressor, Mohammed Merah, alvejou um professor – o rabino Jonathan Sandler – e seus dois filhos, um menino de 3 anos e outro de 6 anos. Dentro da escola, ele também matou a tiros uma garota de 6 anos.

Merah fugiu depois do ataque, mas foi encontrado e morto pela polícia três dias depois. O atentado foi reivindicado por um grupo ligado à Al-Qaeda.

Outro ataque chocante na França ocorreu em 2020: o assassinato do professor Samuel Paty em Conflans-Sainte-Honorine, na periferia de Paris. Ele foi decapitado na rua, perto da escola onde ele ensinava História e Geografia, por ter mostrado em suas aulas sobre liberdade de expressão caricaturas do profeta Maomé publicadas pela revista satírica Charlie Hebdo.

Um dos ataques mais emblemáticos ocorreu em 1993, em Neuilly-sur-Seine, na periferia de Paris, quando um homem invadiu armado uma escola maternal exigindo 100 milhões de francos (cerca de R$ 83 milhões). O desempregado Érick Schmitt manteve como refém 21 crianças com idades entre 2 e 3 anos e uma professora. O sequestro durou 46 horas, o agressor foi morto e todos os reféns sobreviveram.

Rússia teve quatro ataques em três anos

Desde 2021, a Rússia foi palco de quatro ataques em escolas. O último deles, em 2022, na cidade de Izhevsk, no oeste, foi perpetrado por um ex-aluno, terminou com 17 pessoas mortas a tiros, entre elas, 11 crianças.

Na Crimeia, região ucraniana anexada pela Rússia em 2014, um aluno matou 20 pessoas com um fuzil numa escola de ensino médio em 2018. O ataque é classificado pelas mídias locais como “Columbine russo”, em referência ao massacre que deixou 15 mortos no estado do Colorado, centro dos EUA.

Na Alemanha, na cidade de Winnenden (sul), em 2009, um adolescente de 17 anos invadiu armado uma escola onde ele havia estudado até o ano anterior e matou 15 pessoas. Outros 9 estudantes ficaram feridos.

Em 2015, a Suécia foi palco do pior ataque em escolas do país, em Trollhättan (sudoeste), um crime por motivações nazistas. Um jovem de 21 anos atacou uma escola frequentada principalmente por imigrantes, matou dois professores, um aluno e feriu outros dois estudantes.

No mesmo ano, em Barcelona, na Espanha, um estudante invadiu uma escola de ensino médio armado com uma faca e uma balestra, matou uma professora e feriu outras quatro pessoas.

Visibilidade aos agressores

No Brasil, diante da repetição de ataques em escolas, vários veículos de comunicação decidiram modificar a forma como noticiam esse tipo de violência, não publicando mais a foto e o nome do agressor. O objetivo é não dar visibilidade e inspirar outros atos.

Na França, esse debate teve início na época dos atentados terroristas de massa, incitado pela cobertura do ataque em Nice, em que 86 pessoas foram mortas. Atualmente a postura adotada depende de cada veículo de comunicação. O jornal Le Monde foi um dos primeiros a anunciar que não publicaria mais fotos de terroristas. Outras publicações ainda foram mais longe, como o jornal La Croix e a rádio Europe 1, que não noticiam mais os nomes dos autores de atentados.

Mas a decisão não é unânime. O jornal Libération recusa essa estratégia. Em um editorial publicado em 28 de julho de 2016, o diário avalia que a liberdade de informação deve prevalecer. Não publicar nomes de autores de atentados “já é ceder ao terrorismo”, avalia.

Já a RFI decidiu, há quase sete anos, não publicar mais fotos e qualquer tipo de material que seja considerado elemento de propaganda de atos terroristas, sejam eles imagens, sons ou comunicados. A divulgação ou não dos nomes é decidida após avaliação do caso.

A cartilha de deontologia da RFI também prevê que nenhuma imagem ou informação que possa prejudicar a segurança, a integridade ou a dignidade das vítimas seja veiculada.

Por: Daniella Franco

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