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Egípcios suspeitos de atuarem como coiotes em navio que naufragou se apresentam à Justiça na Grécia

Os nove homens, suspeitos de organizarem travessias ilegais, fazem parte dos 104 sobreviventes do naufrágio que deixou pelo menos 78 mortos na noite do dia 13 de junho, na costa do Peloponeso, na Grécia. Eles estavam no barco de pesca que ia da Líbia para a Itália, com centenas de pessoas a bordo e devem se apresentar nesta segunda-feira (19) à Justiça.


Manifestação após o naufrágio que deixou centenas de mortos na costa grega.
© Louiza Vradi / Reuters

De acordo com a (OIM) Organização Internacional para as Migrações, “esta é uma das piores tragédias ocorridas no Mediterrâneo em uma década.” Pelo menos 700 pessoas estariam a bordo da embarcação, mas esse número é provavelmente bem maior.

A Justiça busca esclarecer se houve negligência no resgate, na noite do acidente. A versão inicial dos guarda-costas não condiz com outros depoimentos. Eles afirmam que o barco não precisava de assistência e, antes do naufrágio, que teria ocorrido de maneira repentina, “a travessia para a Itália ocorria normalmente.”

Várias embarcações navegavam nesta mesma área no Mediterrâneo no momento da tragédia. A análise do movimento das embarcações, que foi possível graças às informações fornecidas pelas balizas, revelam que o barco de pesca praticamente não se mexeu em sete horas e carregava um número de passageiros bem acima de sua capacidade.

Diante de duas versões tão contraditórias, a Justiça questiona como os guarda-costas gregos agiram durante o incidente. O avião da Frontex foi o primeiro a detectar a embarcação. Em seguida, as autoridades italianas avisaram a Grécia que um navio estava “em dificuldade” nas águas territoriais do país. Isso ocorreu 12 horas antes do naufrágio. Por que então o resgate não ocorreu?

Equipe de resgate socorre migrante que sobreviveu ao naufrágio na Grécia na semana passada
Equipe de resgate socorre migrante que sobreviveu ao naufrágio na Grécia na semana passada © AFP – Angelos Tzortzinis

RFI conversou com o sírio Mouhammad no centro de identificação de Malakasa, no nordeste de Atenas, onde os sobreviventes foram recebidos após a tragédia. Ele vive como refugiado no Reino Unido desde 2019 e busca informações sobre seu primo, que fazia a travessia.

“O resgate não está claro. Eles estavam sem água e comida há três dias. Antes de partir, os coiotes tiveram que tirar água do barco para ganhar espaço e chegou uma hora em que eles precisaram pedir ajuda. Alguns chegaram a conversar com representantes de associações. Eles esperaram durante 24 horas e várias embarcações passaram por eles”, conta.

Segundo Mouhammad, muitas pessoas ouvidas pelas autoridades disseram que os migrantes estavam indo para a Itália e não pareciam em perigo. “Isso talvez explique em parte o atraso do resgate e os depoimentos desencontrados. Eles queriam ir para a Itália, claro, mas não podiam. O barco não tinha condições de prosseguir a travessia”, diz. Segundo depoimentos, a embarcação virou quando outro navio tentou rebocá-lo.

Política migratória é alvo de debate

Os gregos vão às urnas novamente neste domingo (25) para participar do segundo turno das eleições legislativas. O acidente acabou repercutindo na campanha, trazendo a política migratória, ausente nos programas e comícios durante o primeiro turno, para o centro do debate.

O primeiro-ministro de direita Kyriakos Mitsotakis, que tenta a reeleição e é o favorito nas pesquisas, tende a responsabilizar as políticas gregas e europeias pela má-gestão das rotas de imigração e, por isso, os coiotes não são os únicos culpados pela situação. Ele acusa os governos gregos precedentes de terem sido negligentes em relação à imigração.

(Com informações de Juliette Gheerbrant e Joël Bronner)

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