Lira anuncia apoio a Hugo Motta na disputa pela Presidência da Câmara
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou nesta terça-feira (29) que vai apoiar a candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa pelo comando da Casa em 2025.
A decisão foi tomada depois de meses de suspense em torno do indicado de Lira à sucessão – e de reviravoltas na configuração dos nomes colocados na disputa.
O endosso a Hugo Motta foi anunciado em um pronunciamento na Residência Oficial da Câmara, com a presença de líderes partidários.
“Depois de muito conversar e, sobretudo, de ouvir, estou convicto de que o candidato com maiores condições políticas de construir convergências no parlamento é o deputado Hugo Motta, nome que demonstrou capacidade de aliar polos aparentemente antagônicos com diálogo, leveza e altivez”, disse Lira.
“Estou certo de que Hugo Motta, deputado experiente, em seu 4 º mandato, e que viveu e vive de perto os desafios que perpassam a nossa gestão, vai saber manter a marcha da Câmara dos Deputados, seguindo esta mesma receita que tantos bons frutos deu ao Brasil: respeito ao Plenário, cumprimento da palavra empenhada e busca incessante por convergência”, seguiu, ao lado de Motta.
Deputado Hugo Motta (Republicanos – PB) — Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados
Após o anúncio de Lira, Motta lançou oficialmente a sua candidatura, em uma reunião da bancada do Republicanos na Casa.
Em uma fala à imprensa, o Hugo Motta afirmou que, em uma eventual gestão, terá “compromisso com o Brasil”.
O deputado despontou como favorito ao longo de setembro, após o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) abrir mão de sua candidatura. A divisão da Casa entre três candidatos – Pereira, Antonio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União-BA) – deflagrou uma operação de Lira para construir uma candidatura de consenso.
Meses de negociação
Em setembro, Lira participou de um almoço de aniversário de Hugo Motta na Câmara e, segundo interlocutores, cogitou anunciar ali mesmo o apoio. O anúncio, no entanto, não aconteceu.
As semanas seguintes foram de intensa negociação para ocupar o “vácuo” deixado pelo deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) – que era tido como pré-candidato, mas abriu mão em favor de Motta.
No último dia 16, por exemplo, Motta se reuniu com parte da bancada do PT para acenar que, se eleito, colaboraria com a “governabilidade”.
Além de Hugo Motta, ainda são pré-candidatos já anunciados os deputados Antonio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União-BA).
Desde o primeiro semestre, Arthur Lira dizia em entrevistas que trabalhava para construir um “nome de consenso” para sua sucessão.
O atual presidente da Câmara, que não pode mais ser reeleito, buscava como cenário ideal uma chapa única, eleita por aclamação, para evitar rachas na Casa.
Em setembro, Lira chegou a afirmar a Marcos Pereira que ele receberia seu apoio se conseguisse demover os outros candidatos da disputa — sobretudo Antonio Brito.
Pereira, entretanto, disse que o presidente do PSD, Gilberto Kassab, barrou a saída de Brito como sinal de apoio ao seu nome, o que o levou a abandonar a disputa.
Motta, por outro lado, reúne as qualidades buscadas por Lira para angariar apoios entre diferentes bancadas na avaliação de parlamentares.
Além de ser próximo do presidente da Casa, Motta tem bom trânsito entre deputados dos partidos do Centrão e não sofre resistências entre partidos de esquerda, como é o caso de Elmar Nascimento. Por isso, virou o favorito a receber a “bênção” de Lira.
A eleição que definirá a nova Mesa Diretora da Câmara acontecerá em fevereiro do ano que vem.
Regras da eleição
As regras da Casa estabelecem que, para ser eleito em 1º turno, um candidato precisa ter maioria absoluta dos votos (metade mais um), desde que 257 deputados tenham votado. Se isso não ocorrer, haverá um 2º turno entre os dois mais votados, e o eleito será o que reunir mais votos.
Também é responsabilidade dele destravar pedidos de abertura de impeachment contra um presidente da República. Além disso, o comandante da Casa também ocupa o segundo lugar na linha de sucessão da Presidência da República.
Arthur Lira já indicou que deseja eleger o seu sucessor em uma eleição sem sustos, sem divisões, com um bom número de votos.
Ele tenta reeditar a disputa de 2023, quando foi reeleito com apoio do PT ao PL. Por trás desses movimentos, dizem parlamentares, o deputado quer também demonstrar sua força e manter sua relevância depois de deixar o cargo.
Hugo Motta terá o desafio de viabilizar a sua candidatura e reunir forças políticas divergentes. Ele é visto pelos pares como um deputado acessível e com boa circulação entre diferentes bancadas.
Exemplo disso foram conversas que ocorreram no mês passado, horas após ter sido apresentado como candidato do Republicanos ao comando da Câmara, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ex-presidente Jair Bolsonaro — as maiores lideranças do PT e do PL, que juntos representam 160 deputados.
Nas reuniões, tratou de sua trajetória política. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), que participou do encontro de Motta com Bolsonaro, disse que a reunião foi “maravilhosa”.
Integrantes do PL na Câmara, que soma 92 deputados, têm sinalizado que deverão votar no candidato escolhido por Bolsonaro.
“O PL apoiará o candidato do presidente Bolsonaro. Se for combinado com o Lira, fica melhor”, afirmou o vice-líder do partido, Giovani Cherini (PL-RS).
Ao ser questionado nesta terça, Hugo Motta disse ter “confiança” de que o PT e o PL vão aderir à sua candidatura.
“Temos a confiança, com a/ conversas que tivemos, que o PT caminhará conosco nessa disputa. […] E também acreditamos e confiamos com o apoio do PL”, declarou.
G1.Globo