Ex-chefe no governo Trump: “Se a Usaid não existisse, Bolsonaro ainda seria presidente”
Michael Benz deu declaração ao podcast War Room, de Steve Bannon
Michael Benz, ex-chefe da divisão de informática do Departamento de Estado dos Estados Unidos, fez uma declaração na última segunda-feira (3) que tem gerado grande repercussão no Brasil. Ao podcast War Room, de Steve Bannon, ex-assessor do presidente Donald Trump, Benz afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda estaria no cargo se a Usaid não existisse.
– Se a Usaid não existisse, Bolsonaro ainda seria presidente do Brasil, e o Brasil ainda teria uma internet livre e aberta – disse Benz.
A Usaid era a agência encarregada de distribuir a maior parte dos recursos do governo americano para ajuda externa, entrou no centro de um grande escândalo nos últimos dias após o empresário Elon Musk chamar a entidade de “ninho de vermes”, e o teor de diversos repasses feitos pela agência vir a público, como, por exemplo, o patrocínio de diversos eventos da agenda LGBTQIA+.
De acordo com Benz, a entidade gastou “dezenas de milhões de dólares do contribuinte americano financiando a pressão para que projetos de lei contra a desinformação fossem aprovados” no Parlamento brasileiro, e também bancou advogados que teriam feito pressão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – que Benz chamou de “tribunal da censura” – para reprimir tuítes de Bolsonaro.
– Eles [Usaid] construíram um polvo de censura no Brasil e ele foi construído inteiramente com a Usaid, por que a Usaid declarou Bolsonaro um Trump populista, um Trump dos trópicos, e em seguida montou essa operação para controlar o ecossistema de informações no país – completou.
Após a declaração de Benz, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse ser “fundamental que o Congresso Nacional e demais instituições competentes investiguem o financiamento e a atuação dessas organizações em território brasileiro”.
– Transparência e soberania não podem ser negociadas. Além disso, é necessário que o Itamaraty e os órgãos de inteligência avaliem os riscos dessa interferência para a segurança institucional e política do Brasil – apontou.
TRUMP PÕE TODOS OS FUNCIONÁRIOS EM LICENÇA
Ao voltar ao ar nesta quarta-feira (5) depois de ficar indisponível por três dias, o site da Usaid passou a apresentar uma mensagem informando sobre a decisão do presidente Donald Trump de colocar todos os funcionários em licença administrativa, exceto equipes responsáveis por missões críticas, liderança central e programas especiais.
A página também informou que o Departamento de Estado está preparando um plano para trazer de volta aos EUA os funcionários da USaid que estão em missão em outros países. Segundo a mensagem, o governo providenciará e pagará pelas viagens. O retorno deve se dar no prazo de 30 dias e os contratos não essenciais serão rescindidos.
REPASSES POLÊMICOS
Em uma nota publicada pela Casa Branca na última segunda-feira (3), o governo americano detalhou alguns projetos polêmicos que teriam sido financiados pela Usaid, como, por exemplo, repasses para a EcoHealth Alliance, entidade que esteve envolvida em uma pesquisa no Instituto de Virologia de Wuhan, na China, sobre o coronavírus em morcegos.
Além disso, o governo dos Estados Unidos também elencou inúmeros repasses da Usaid para produções culturais sobre diversidade, transgêneros e questões relacionadas ao “ativismo LGBT” ao redor do mundo.
Entre elas estão:
– 1,5 milhões de dólares (R$ 8,68 milhões) para “promover a diversidade, a equidade e a inclusão nos locais de trabalho e nas comunidades empresariais da Sérvia”;
– 70 mil dólares (R$ 405 mil) para produção de um “musical sobre diversidade, a equidade e a inclusão na Irlanda”;
– 47 mil dólares (R$ 272 mil) para uma “ópera transgênero” na Colômbia;
– 32 mil dólares (R$ 185 mil) para uma “história em quadrinhos transgênero” no Peru;
– 2 milhões de dólares (R$ 11,58 milhões) para mudanças de sexo e “ativismo LGBT” na Guatemala.
A lista ainda tem outros itens como “centenas de milhares de refeições que foram para combatentes afiliados à Al Qaeda na Síria” e também “centenas de milhões de dólares para financiar ‘canais de irrigação, equipamentos agrícolas’ e até fertilizantes usados para apoiar o cultivo sem precedentes de papoula e a produção de heroína no Afeganistão”.
Em nota à imprensa, o governo Trump ressaltou que a agência “não tem prestado contas aos contribuintes, pois canaliza enormes somas de dinheiro para os ridículos — e, em muitos casos, maliciosos — projetos de estimação de burocratas entrincheirados, com quase nenhuma supervisão”.
A Casa Branca completou o comunicado dizendo que, no entanto, “o desperdício, a fraude e o abuso acabam agora”.
MARCO RUBIO NO COMANDO INTERINO
Em meio ao imbróglio sobre a agência, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi nomeado como diretor interino da agência. Em uma nota emitida pelo Departamento de Estado, o órgão diz que a Usaid “há muito tempo se afastou de sua missão original de promover os interesses americanos no exterior de forma responsável”.
– Agora está bem claro que partes significativas de financiamentos da Usaid não estão alinhadas com os principais interesses nacionais dos Estados Unidos. Como uma medida provisória a fim de obter controle e melhor compreensão das atividades da agência, o presidente Donald J. Trump nomeou o secretário Marco Rubio como administrador interino – diz o comunicado.
Ainda de acordo com o Departamento de Estado, Rubio notificou o Congresso de que uma reavaliação das atividades de ajuda externa da Usaid está em andamento com vistas a uma possível reorganização e que, enquanto essa avaliação acontecer, o órgão continuará a “proteger os interesses do povo americano e a garantir que o dinheiro de seus impostos não seja desperdiçado”.