Conto de fadas moderno “Anora”, do americano Sean Baker, vence Palma de Ouro em Cannes
A cerimônia de encerramento do 77° Festival de Cannes, como na abertura, foi apresentada pela atriz francesa Camille Cottin, e começou ao som da música da série “Guerra nas Estrelas” de George Lucas, o homenageado especial da noite. A prestigiosa Palma de Ouro recompensou “Anora”, do americano Sean Baker. Nenhum dos filmes brasileiros na competição oficial foi premiado. O português Miguel Gomes ficou com a "Melhor Direção".
O Festival de Cannes começou e terminou homenageando Hollywood. Depois de Meryl Streep na abertura, o veterano produtor e cineasta George Lucas recebeu uma Palma de Ouro de Honra na cerimônia de encerramento esta noite. Depois do resumo em imagens de sua longa carreira, George Lucas foi aplaudido de pé por longos minutos. A Palma de Honra foi entregue por outro monstro sagrado de Hollywood, Francis Ford Coppola. O cineasta estava na disputa com “Megalópolis”, mas não recebeu nenhum prêmio.
As escolhas do júri presidido pela americana Greta Gerwig revelaram algumas surpresas, mas a maioria dos filmes cotados este ano foi premiada, mesmo se em categorias diferentes das esperadas.
“Anora”, de Sean Baker, era um dos mais citados para levar a prestigiosa Palma de Ouro. O longa é um conto de fadas moderno da Cinderela entre uma stripper e o filho de um oligarca russo. Mas quando a família russa fica sabendo do casamento, a história se complica. A presença de George Lucas e Coppola na premiação sinaliza uma passagem de bastão entre uma geração e outra do cinema americano.
Presença do cinema francês
Coralie Fargeat foi a primeira francesa premiada da noite. Ela recebeu o prêmio de melhor roteiro pelo filme de horror “The Substance”, estrelado por Demi Moore.
O filme francês “Emilia Pérez”, de Jacques Audiard, foi duplamente recompensado. Levou o prêmio de melhor interpretação feminina, concedido coletivamente a todas as atrizes, e o Prêmio do Júri. A atriz transsexual espanhola Karla Sofía Gaston subiu ao palco e emocionada disse que o diretor francês é “o melhor da galáxia” e dedicou o prêmio “a todas as pessoas trans e que elas acreditem que como Emilia Pérez é possível mudar para melhor”.
O criativo thriler musical de Audiard, sobre a mudança de sexo de um poderoso narcotraficante mexicano, era um dos mais cotados para receber a Palma de Ouro este ano.
O prêmio de melhor interpretação masculina foi para Jesse Plemons, que se impõe atualmente como um dos melhores atores do cinema americano. Ele atua, ao lado de Emma Stone, em “Kinds of Kindness” (“Tipos de Bondade”) do grego Yorgos Lánthimos.
Prêmio Especial do Júri para iraniano
O prêmio especial do júri foi atribuído ao iraniano Mohammad Rasoulof, diretor do impactante “The seed of the sacred fig” (“A semente do figo sagrado”), que denuncia a violência do regime no Irã e a repressão contra os recentes protestos após a morte da jovem Mahsa Amini.
Rasoulof, condenado a cinco anos de prisão, conseguiu fugir de seu país para participar de Cannes. Em seu discurso, lembrou de todos os integrantes de sua equipe, retidos no Irã e pediu: “não permitam que a República Islâmica trate assim os iranianos”.
O cineasta também ganhou o prêmio FIPRESCI da crítica internacional e do Júri Ecuménico de melhor filme.
Melhor Direção para o português Miguel Gomes
“Acabei tendo sorte” brincou o português Miguel Gomes ao receber o prêmio de “Melhor Direção”. O cineasta convidou para subir ao palco junto com ele toda a equipe do longa “Grand Tour”, que marcou sua estreia na competição oficial. Ele lembrou que a participação de filmes em português na disputa pela Palma de Ouro não é frequente e agradeceu o legado do cinema português, a começar por Manuel de Oliveira, que o permitiu ”chegar até aqui”.
Um dos filmes mais cotados desta seleção, “All we imagine as light” (“Tudo o que imaginamos como luz”), da indiana Payal Kapadia, ficou com o “Grande Prêmio” e foi longamente ocavionada pela plateia.
Antes do anúncio da Palma de Ouro do Curta Metragem, a presidente da mostra, a atriz belga Lubna Azabal, pediu a liberação de todos os reféns israelenses detidos pelo Hamas e um cessar-fogo imediato em Gaza. O curta “L’Homme qui ne se taisait pas” (“O Homem que não se calava”), do croata Nebojsa Sliepcevic, levou o prêmio. O júri concedeu uma menção especial ao português “Mau Por Um Momento”, de Daniel Soares.
“Armand”, do norueguês Halfdan Ullmann Tondel, que integrou a mostra “Um Certo Olhar”, recebeu a “Câmera de Ouro”, concedida ao primeiro longa-metragem da seleção.
A mostra “Um Certo Olhar”, que revela novos talentos, premiou o chinês “Black Dog”, de Guan Hu. A obra, rodada na região do deserto de Gobi, é centrada na estranha relação entre um agente do controle de zoonoses e um vira-lata.
Brasil em Cannes
Nenhum dos filmes brasileiros na competição oficial, “Motel Destino”, de Karim Aïnouz, e o curta “Amarela”, de André Saito, foram agraciados. Mas a participação do cinema brasileiro nesta edição 2024 do festival foi considerada excepcional e o Brasil sai de Cannes com pelo menos um prêmio.
O ator Ricardo Teodoro, de “Baby”, levou o prêmio revelação da Semana da Crítica. O longa de Marcelo Caetano era um dos sete filmes na competição da prestigiosa mostra paralela do Festival de Cannes.
AFP