Como seria o “muro antidrones” discutido por europeus contra a Rússia?
Diante das múltiplas incursões russas no espaço aéreo europeu nas últimas semanas, os líderes do bloco estudam a instalação de um "muro antidrones" para proteger a Europa. O projeto é um dos assuntos debatidos em uma cúpula de segurança de dois dias em Copenhague, encerrada nesta quinta-feira (2), na Dinamarca.

Primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e presidente da Ucrânica, Volodymyr Zelensky, conversam à margem da Cúpula da Comunidade Política Europeia, em Copenhague. (02/10/2025) © Mads Claus Rasmussen / Reuters
Na quarta-feira, o evento reuniu apenas os 27 países da União Europeia e, neste segundo dia, os outros 20 Estados-membros da Comunidade Política Europeia se juntaram às conversas, incluindo Suíça, Reino Unido, Geórgia e Turquia.
A criação do muro antidrones foi um dos focos das conversas, após a entrada de aeronaves russas sobre a Estônia, Polônia e Romênia. A União Europeia não se comprometeu a afirmar, como pediam a Suécia, a Polônia e a República Tcheca, que todas as aeronaves intrusas serão abatidas, informa o correspondente da RFI em Bruxelas, Pierre Benazet.
A resposta da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) às incursões de cerca de 20 drones russos na Polônia evidenciou as deficiências do arsenal da aliança diante dessa ameaça. Para abater três desses drones, a organização teve que utilizar mísseis sofisticados e caros.
O Comissário Europeu da Defesa, Andrius Kubilius, defende há muito tempo novas soluções para a ameaça que representa Moscou, mas foi a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, quem primeiro levantou a ideia de um “muro de drones”, em 10 de setembro, perante os eurodeputados.
Inicialmente, a ideia é implantar mais sensores, tanto terrestres quanto via satélite, ao longo da fronteira que a União Europeia compartilha com a Rússia. A Ucrânia, especialista nessa área, adotou um sistema de sensores acústicos no início da guerra, explicou Kubilius. “Acho que também podemos fazer isso rapidamente”, disse ele à AFP.
A Ucrânia participará do desenvolvimento deste muro antidrone na Europa, confirmou seu presidente, Volodymyr Zelensky, nesta quinta-feira. Após quase quatro anos de guerra, Kiev estabeleceu uma indústria de drones e sistemas antidrone única na Europa.
De acordo com uma autoridade europeia, essa implantação levaria pelo menos um ano, antes que as capacidades de interceptação sejam implementadas posteriormente.
Nenhuma nova “Linha Maginot”
Segundo especialistas, a tecnologia de drones está evoluindo muito rapidamente, e os sistemas atualmente considerados correm o risco de se tornarem obsoletos até lá. “Também sabemos que a tecnologia está evoluindo tão rapidamente que não podemos ter uma única ideia e acreditar que ela resolverá todos os nossos problemas”, reconheceu a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, cujo país foi sobrevoado por drones misteriosos pouco antes de uma cúpula de líderes europeus em Copenhague.
Os europeus devem “aprender lições” com o que a Ucrânia conseguiu realizar, de forma muito pragmática, enfatizou a presidência francesa esta semana.
A primeira-ministra estoniana, Kristen Michal, por sua vez, reconheceu que não se trata de construir uma nova “Linha Maginot”. Antes da Segunda Guerra Mundial, a França construiu uma linha de defesa ao longo de sua fronteira com a Alemanha, que se mostrou completamente inútil e foi contornada.
“Às vezes, desconfio de termos bastante abrangentes” como “cúpulas de ferro” ou “muros de drones”, salientou o presidente francês, Emmanuel Macron, na quarta-feira. “As coisas são mais sofisticadas, mais complexas na realidade”, complementou.
Quem pagará?
O “muro” antidrones foi amplamente discutido na quarta-feira pelos líderes dos 27 Estados-membros da UE, reunidos em Copenhague. E embora muitos tenham expressado apoio à sua implementação, alguns demonstraram reservas.
De acordo com uma autoridade europeia, a Alemanha, por exemplo, questionou o custo desta operação, embora o tema do financiamento não estivesse na pauta da reunião. Kubilius evocou uma faixa de “vários bilhões de euros, não centenas de bilhões”.
Outros países, distantes da fronteira russa, temem ficar para trás, segundo uma autoridade europeia. A Comissão Europeia também procurou tranquilizar, prometendo uma estratégia de “360 graus”.
“Quando falamos do muro antidrone, estamos falando de toda a Europa, não apenas de um país”, garantiu Zelensky.
RFI